Qualquer compromisso de saída dos combustíveis fósseis deverá incluir as “diferenças nas circunstâncias nacionais”, defende, em entrevista à AFP, a ministra sul-africana do Meio Ambiente, Barbara Creecy, designada pela presidência emiradense da COP28 para desempenhar um importante papel de mediadora nas negociações.

PERGUNTA: Como a África do Sul é afetada pela crise climática?

RESPOSTA: “O continente africano está aquecendo duas vezes mais rápido do que a média mundial. Em nosso país, o clima já é 2,2°C mais quente em média, e enfrentamos fenômenos meteorológicos extremos: enchentes, secas, tempestades, incêndios e um aumento do nível do mar.

Estamos decididos a contribuir o máximo possível para a redução das emissões de gases de efeito estufa, considerando as circunstâncias nacionais.

Mas também fazemos um chamado à comunidade internacional e, em particular, aos países desenvolvidos, para que nos ajudem a alcançar nossos objetivos de redução de emissões e fortalecer nossas metas de resiliência à mudança climática”.

P: Quais são os desafios da África do Sul para realizar a transição energética?

R: “A África do Sul enfrenta atualmente a insegurança e a escassez de energia. Cerca de 90% de nossa geração de eletricidade depende do carvão e, devido ao baixo rendimento destas centrais elétricas, é muito difícil prosseguir com sua desativação.

Continuamos comprometidos com a transição energética, mas será muito importante garantir que tenhamos mais megawatts de energia na rede antes que possamos desativar as usinas. É um equilíbrio difícil de encontrar para garantir o cumprimento dos objetivos climáticos, preservando ao mesmo tempo a segurança energética”.

P: O mundo deveria aceitar eliminar gradualmente todos os combustíveis fósseis na COP28?

R: “O problema que enfrentamos como país em desenvolvimento é o das circunstâncias nacionais: temos uma responsabilidade comum, mas com diferentes circunstâncias nacionais e diferentes capacidades.

Os países em desenvolvimento não deveriam ter que escolher entre fortalecer sua resiliência climática e alcançar seus objetivos de desenvolvimento sustentável. Devem fazer os dois.

E precisamos de ajuda para isso. Mas não há novos financiamentos, nem mesmo previsões, e em grande escala sendo negociados. Por isso, continuamos defendendo que sejam respeitados os compromissos de financiamento público para a luta contra a mudança climática.

P: Você foi designada junto com seu homólogo dinamarquês para mediar as negociações entre ministros de quase 200 países. Qual será seu papel?

R: “A partir de sexta-feira, teremos que consultar os diferentes países e os diferentes grupos de negociadores sobre sua abordagem da avaliação global do Acordo de Paris (que constitui o rascunho do acordo da COP28).

Todos estão de acordo sobre para onde devem olhar, tanto para frente quanto para trás. Deve ser considerado o melhor cenário possível em termos de ciência e justiça.

Como ocorre em qualquer COP, a chave está no detalhes. Todos precisam sentar e escutar com muita atenção para identificar a forma final de um acordo que seja extremamente ambicioso, mas que também promova a máxima igualdade para os países em desenvolvimento”.

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