Construir ou investir em um autódromo privado vem se tornando um mau negócio ao redor do mundo nos últimos anos. A perda de apelo do automobilismo diante do público e o alto custo relacionado aos campeonatos, principalmente em relação aos GPs da Fórmula 1, vêm trazendo dificuldades financeiras até mesmo para circuitos tradicionais, caso de Silverstone, na Inglaterra, e Nürburgring, na Alemanha.

O famoso autódromo inglês chegou a ser colocado à venda entre 2016 e o início de 2017, quando seu proprietário privado, o British Racing Drivers Club (Clube dos Pilotos Britânicos), abandonou a ideia por falta de investidores. A preocupação dos donos era a falta de recursos para sustentar o GP da Inglaterra de F-1 no local.

A corrida britânica tem contrato com a categoria somente até este ano e corre o risco de deixar o calendário a partir de 2020 por ser uma das três etapas que não paga a cara “promoter fee” aos proprietários da F-1. As outras etapas são as do Brasil e da Alemanha, que também não recebem subsídios diretos do governo para sediar a corrida.

O GP alemão atualmente é disputado em Hockenheim, mas já foi sediado em Nürburgring, cujo autódromo chegou a contar com três donos diferentes ao longo de 2014. O circuito, hoje privado, trocou de mãos seguidamente porque seus proprietários tinham dificuldades para bancar o local e as taxas da F-1. As limitações financeiras tiveram efeito direto no calendário da categoria. E, nos anos 2015 e 2017, não houve GP da Alemanha porque Nürburgring não conseguiu arcar com os custos de receber a corrida.

Manter um autódromo deste porte gera custos elevados para qualquer proprietário, seja ele público ou privado. No caso de Interlagos, que será concedido à iniciativa privada, de acordo com projeto da prefeitura, seu custo é de R$ 40 milhões anuais, sem contar reformas e eventuais obras mais elaboradas de manutenção.

Esse valor poderá subir consideravelmente se os promotores de São Paulo pagassem a taxa da Fórmula 1, estimada em US$ 25 milhões – cerca de R$ 95 milhões, no câmbio atual. Neste caso, receber um GP de F-1 custaria aproximadamente R$ 135 milhões anuais, num cálculo rápido. As receitas com ingressos e patrocinadores dificilmente conseguiriam bancar este valor, segundo especialistas. Daí a dificuldade de se encontrar investidores para bancar autódromos privados, caso do projeto do Rio de Janeiro, em Deodoro. O futuro circuito carioca tem ainda o gasto de construção, avaliado em R$ 700 milhões.

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“Nenhuma empresa privada em sã consciência, que faça qualquer análise de mercado, que faça qualquer business model, (faria este investimento)”, opina Lucas di Grassi, ex-piloto de F-1 e um dos criadores da Fórmula E, em um recado direto às autoridades cariocas em suas redes sociais. “Não fecha a conta investir R$ 700 milhões para fazer um autódromo desta magnitude em Deodoro. Não é porque é no Rio de Janeiro. É porque autódromos como esse estão quebrados pelo mundo afora. Não faz sentido.”


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