Além do futebol, a pesquisa do Hospital das Clínicas abrange diversas áreas que podem estimular os portadores de problemas cognitivos e de memória. As sessões no Museu do Futebol mostram que novelas, músicas, cinema e outras formas de entretenimento também são temas importantes no processo de reinserção social e reativação de lembranças.

Ialê Cardoso, coordenadora do Núcleo de Ação Educativa do Museu do Futebol, explica que o projeto foi uma criação coletiva entre os pesquisadores do Hospital das Clínicas e os educadores do Museu do Futebol. “Pensamos em visitas educativas com a presença dos familiares, oferecendo estímulo a partir do nosso acervo. O trabalho foi além do futebol. As mulheres olhavam para imagens de música e novela”, contou. “Presenciei pacientes sem lembrança e sem vínculo com o restante do grupo que, de repente, começaram a falar. Foi impactante”.

A experiência desenvolvida pelo Hospital das Clínicas e o Museu do Futebol foi inspirada em trabalhos que já existem na Escócia há 10 anos. O projeto Football Memories foi criado pela Alzheimer Scotland e o Scottish Football Museum e abrange cerca de 200 instituições, entre hospitais e associações. A biblioteca do Museu do Futebol tem exemplos das fotografias utilizadas na pesquisa escocesa. O pesquisador brasileiro Carlos Chechetti foi convidado para conhecer o projeto.

“Passei uma semana em Glasgow e percebi que nossas sessões conseguiram os mesmos resultados. Lá, uma pessoa reclusa e reservada também começa a se engajar e interagir a partir do futebol. Ele se lembra com quem foi aos estádios, os amigos que encontrou. O futebol serve de gatilho para se lembrar de mais coisas”, disse.

O Museu do Futebol pretende estreitar os laços com a instituição do Reino Unido. “Em 2020, a gente quer continuar com as visitas. Queremos estreitar com o museu da Escócia, usando o futebol como ponte que conecta o paciente de Alzheimer com suas memórias”, explicou Marcelo Continelli, assistente de Coordenação do Núcleo Educativo do Museu do Futebol.

SINTOMAS – A doença de Alzheimer é um problema neurodegenerativo crônico e a forma mais comum de demência. Seu sintoma mais frequente é a perda de memória de curto prazo e pode provocar o comprometimento de atividades ou funções intelectuais. Com a progressão da doença, surgem sintomas como a perda de memória remota (ou seja, dos fatos mais antigos), irritabilidade, falhas na linguagem, prejuízo na capacidade de se orientar no espaço e no tempo.

Estima-se que o Brasil tenha 1,2 milhão de pessoas diagnosticadas com a doença. Quase um terço da população entre 85 e 90 anos convive com o problema. Existem duas linhas principais de tratamento. A primeira, farmacológica, utiliza medicações que podem estimular as funções cognitivas. A linha não farmacológica pode ser útil quando os pacientes têm outros sintomas, como a dificuldade para dormir, por exemplo.