SÃO PAULO, 29 OUT (ANSA) – Por Luciana Ribeiro – O renomado ator Antonio Catania atravessou o Atlântico para prestigiar a abertura oficial da 20ª edição do Festival de Cinema Italiano, em São Paulo, e destacou a importância da troca cultural entre Itália e Brasil e a necessidade de se produzir obras que abordem temas contemporâneos e relevantes.
O italiano integra o elenco do filme “De Nápoles a Nova York”, de Gabriele Salvatores, cuja exibição marcou o início da mostra cinematográfica, em um momento em que a sétima arte no “Belpaese” se mostra “um pouco mais introspectiva”.
“O cinema italiano fala muito da família, das dificuldades dos adolescentes de encontrar o próprio futuro, da ausência de ponto de referência nos adultos, de temas particulares, como mudança de gênero, assuntos que refletem a sociedade contemporânea. Ele está acertando as contas com uma história diversa, fala de uma família que entrou em crise e já não é mais a mesma”, disse Catania em entrevista à ANSA.
O ator participou da inauguração do festival pela segunda vez ? a outra foi em 2015 ? e destacou como o evento cresceu ao longo da última década. “É um prazer pra mim voltar depois de tanto tempo. Quando eu vim a primeira vez, era um festival muito pequeno”, afirmou ele, acrescentando “é sempre surpreendente” ver o impacto do cinema italiano no exterior.
“Os festivais são uma forma de a gente mostrar a evolução do cinema do nosso país. E, quando a gente fala de evolução de cinema, a gente fala de como está a sociedade no momento”, explicou.
Sobre “De Nápoles a Nova York”, Catania lembrou que a obra retrata a jornada de duas crianças napolitanas que, no Pós-Guerra, embarcam clandestinamente rumo aos Estados Unidos em busca de um futuro melhor, abordando a imigração, tema mais atual do que nunca na Itália, sob uma nova perspectiva.
“Antigamente, nós íamos para fora procurar trabalho, e hoje são as pessoas que vêm para a Itália para procurar trabalho.
Então é um retrato do que está acontecendo na nossa sociedade”, afirmou.
Para Catania, o longa é extremamente relevante no contexto global atual, em que deslocamentos ocorrem em meio a conflitos em diversos países. “Existem muitos imigrantes que chegam porque precisam realmente, vêm de países onde não têm o que comer, onde existem guerras”, observou.
Por isso, o ator defendeu que os países ocidentais deveriam “se ocupar desse problema”, lembrando que muitas nações precisam de mão de obra. “Na Itália, por exemplo, existem trabalhos que os italianos não querem mais fazer”, completou.
Catania, no entanto, fez um alerta a respeito da imigração clandestina, destacando que há pessoas que acabam levando aos países de destino “problemas curtos, como roubo, que a Europa inteira está enfrentando nesse momento”.
O ator ainda expressou seu apreço pelo filme brasileiro vencedor do Oscar “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, destacando a sensibilidade da obra, “que olha o fenômeno da ditadura ? um problema que nós também tivemos ? do ponto de vista familiar”.
“O olhar é para as consequências não tanto do sequestro, mas sim para aquilo que cria numa família. É um filme belíssimo”, concluiu o ator. (ANSA).