CRIADORES Jade Kim Nguyen e Minh Bui idealizaram um projeto moderno, mas sem deixar de homenagear os marcos arquitetônicos da velha Saigon (Crédito:Divulgação)

Sinônimo de ambiente fechado, sem ventilação, com aglomeração e sem o devido espaçamento, o cinema mundial sofreu com a pandemia de coronavírus – bem como os empreendimentos culturais e o mercado de entretenimento em geral. Foram mais de um ano com milhares de salas fechadas ao redor do planeta e um prejuízo inestimável. No discreto e tímido retorno, as grandes empresas fazem o possível para retomar o lucro e trazer a clientela de volta – principalmente os mais jovens. Pensando em dar mais brilho nessa retomada e levar os imberbes de volta às grandes telonas, o Beta Cinema, no Vietnã, foi além e resolveu transformar um lobby de cinema em um expressivo e colorido experimento social – com espaços para interação, fotografias, comer e perder o tempo de vista. “A geração Y (os millennials — nascidos entre 1980 e 1995, atualmente com 25 a 40 anos) e a geração Z (nascidos entre 1995 e 2010, atualmente com 10 a 25 anos) não vão ao cinema apenas para assistir a um filme, eles vão em grupo para sair, conversar e passar uma noite juntos. Em suma, os cinemas são, ou precisam se tornar, destinos”, afirma Jade Kim Nguyen, cofundadora e CEO da empresa de design Module K, responsável pelo projeto do cinema colorido vietnamita.

O Beta Cinema criou um lugar descolado, alegre, colorido que vai além da simples e escura sala de cinema, ou do lugar que vende pipocas e exibe filmes. “Ele tem essa tendência de fugir dos padrões clássicos dos grandes cinemas de entrar nas salas apenas com horários marcados, ou de ser um elefante branco durante o dia, momento em que há poucas sessões. O lobby vira um grande espaço de convivência”, afirma o arquiteto francês, Greg Bousquet, responsável pelo projeto do teatro Vivo, em São Paulo – conhecido por seus ambientes multiusos e coloridos.

Inaugurado no início deste ano, o Beta Cinema, no Vietnã, conta com sete teatros, com capacidade para 1.000 lugares e ocupa um espaço total de 2.000 metros quadrados no andar térreo de um shopping center no distrito de Go Vap na Cidade de Ho Chi Minh, ou popularmente conhecida como Saigon – nome da cidade até 1945. Na época, a região era capital do Vietnã do Sul e serviu de quartel general das tropas americanas durante a Guerra do Vietnã, sendo um ponto de extrema importância no conflito. Hoje, Ho Chi Minh é a maior cidade e principal centro financeiro, corporativo e mercantil do Vietnã.

Além das cores excentricas e exuberantes, outro fator importante da arquitetura do cinema vietnamita são os designs que reflete a prédios famosos da velha Saigon. “Eu queria que o cinema trouxesse o orgulho pelos marcos da velha Saigon”, afirma Minh Bui, fundador e CEO do Beta Group, que gerencia o cinema. Logo na entrada do lobby, à esquerda, os arcos pintados de verde água, abaixo da bilheteria e da lanchonete, remetem ao correio central da cidade, conhecido por seu teto abobadado construído no final do século XIX, quando o Vietnã ainda era parte da Indochina Francesa. À direita, a área de descanso, em tons azulados, serve de alusão a fachada em arco do Teatro Municipal de Saigon. As luminárias do hall são em forma de pequenos pombos, animais onipresentes na calçada do teatro. As colunas assimétricas pintadas de tons pastéis de rosa e branco, que levam até as salas de cinema, são referências à igreja Sagrado Coração de Jesus, em Saigon, e apelidada apropriadamente pelos populares de igreja Rosa. As coloridas bilheterias e barracas de lanches do Beta Cinema canalizam a profusão de cores nas barracas do maior mercado da cidade, o Ben Thahn, que vende comidas, tecidos e artesanatos.

Divulgação

Entretanto, nem todos ficaram satisfeitos com as cores usadas no teatro. O arquiteto brasileiro Eiji Hayakawa, que projetou o teatro B32, em São Paulo, um dos mais modernos da América Latina, afirma que o uso das cores é “modismo”. “As cores em alta hoje, não são as cores de amanhã. Infelizmente, esse cinema tem prazo de validade, vai ter a duração do tempo que as pessoas acharem isso legal”, revela.

PROJETO Inaugurado no início deste ano, o complexo conta com sete teatros, com capacidade para 1 000 lugares e ocupa um espaço total de 2 000 metros quadrados no andar térreo de um shopping center: muito além da sala escura do cinema (Crédito:Divulgação)