Cinco pontos fundamentais das eleições legislativas na Espanha

Cinco pontos fundamentais das eleições legislativas na Espanha

Manifestações violentas na Catalunha, exumação dos restos mortais do ditador Francisco Franco, força da extrema direita, fragmentação e instabilidade política: os pontos essenciais das eleições legislativas de domingo (10) na Espanha, a quarta vez em quatro anos.

– Distúrbios na Catalunha –

Depois de anos alegando seu caráter pacífico, o separatismo catalão sofreu uma mudança com os distúrbios em Barcelona e em outras cidades da região, depois que o Supremo Tribunal proferiu sentenças de prisão elevadas contra nove líderes independentistas envolvidos na tentativa fracassada de secessão de 2017.

Elisenda Paluzie, líder da influente associação separatista ANC, afirmou que as imagens das barricadas em chamas e as acusações contra policiais “tornam o conflito visível aos olhos do mundo”.

Em nome da temperança e da proporcionalidade, o atual presidente, o socialista Pedro Sánchez, recusou-se a tomar medidas extraordinárias, como exigido pela oposição de direita, o Partido Popular e Cidadãos. Mas endureceu seu discurso em relação ao separatismo, chamando-o de “reacionário”.

– O fator Vox –

A instabilidade na Catalunha tem, segundo as pesquisas, um beneficiário: o partido de extrema direita Vox, que entrou na Câmara baixa do Parlamento com 24 deputados em abril, de um total de 350.

Segundo várias pesquisas, essa sigla que defende a suspensão da autonomia catalã, assim como a proibição de partidos e de associações secessionistas, poderá passar de quinta a terceira força política.

O surgimento do Vox tem sido uma das grandes novidades em um país que até agora não possuía um partido de extrema direita significativo e reconfigurou o mapa do conservadorismo espanhol.

Graças ao apoio parlamentar do Vox, do PP e do Cidadãos, eles governam juntos as regiões da Andaluzia, Madri e Múrcia, e também controlam a prefeitura da capital.

O professor de Ciência Política Pablo Fernández Vázquez, da Universidade de Pittsburgh, esclarece que “o bloco da direita tem muita dificuldade em concordar entre si”, então conseguiria governar a Espanha apenas no caso improvável de ter uma maioria absoluta.

– Franco –

De certa forma, Sánchez se fez notar quando determinou a exumação dos restos mortais do ditador Francisco Franco do Vale dos Caídos, o mausoléu onde seu corpo se encontrava desde sua morte em 1975, para enterrá-los em um discreto panteão da família.

Os socialistas destacaram a exumação como um marco histórico, alcançado após uma longa batalha judicial com os netos do ditador.

Fernando Vallespín, cientista político e ex-presidente do Centro de Pesquisa Sociológica (CIS, público), acredita, no entanto, que o episódio não vai pesar nas eleições e, portanto, “não terá o efeito que o governo, otimista, achou que teria”.

– Fragmentação crescente –

O tradicional bipartidarismo PP-PSOE foi pelos ares em 2015 e, desde então, a fragmentação polícia se acentuou. No campo conservador, três partidos são afins: Cidadãos, Vox e um PP em forte ascensão e que, segundo Vallespin, tem a “possibilidade de ter o voto útil dos eleitores de direita”, fortalecido em geral pela crise na Catalunha.

À esquerda, outros três: PSOE, Podemos e Mais País, uma divisão do partido de Pablo Iglesias liderada por seu ex-número dois, Íñigo Errejón.

No campo separatista da Catalunha, também há três listas: a legenda Juntos pela Catalunha, do ex-presidente regional Carles Puigdemont; a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC); e o CUP, de extrema esquerda.

– Instabilidade –

Com a política espanhola mergulhada em uma lógica de blocos, as pesquisas preveem o risco de uma nova situação de paralisia, na qual não se uniram nem o PSOE, Podemos e o Mais País, de um lado, nem o PP, Cidadãos e Vox, do outro.

Nacionalistas catalães poderão obter mais de 20 deputados, mas os socialistas não buscam seu apoio.

O remédio in extremis poderia vir da abstenção do PP, para permitir que Sánchez tome posse e dê início à legislatura, embora os “populares” não desejem falar sobre isso em público.

“O PSOE precisa chegar a algum tipo de acordo com o PP”, diz Vallespín.

“Eles terão que trabalhar mais para negociar uma posse”, acrescenta Fernández Vázquez, referindo-se aos socialistas.