A Cortina de Ferro determinou a separação, primeiramente ideológica e depois, física, estabelecida na Europa após a Segunda Guerra Mundial entre a zona de influência soviética, no leste, e os países do oeste. Esta barreira caiu em 1989, com o Muro de Berlim.

– De onde vem essa expressão? –

Essa metáfora foi popularizada pelo britânico Winston Churchill. “De Stettin, no Báltico, até Trieste, no Adriático, caiu sobre o continente europeu uma cortina de ferro”, declarou em 5 de março de 1946 em um discurso nos Estados Unidos.

Sua autoria é atribuída ao escritor russo Vasili Rozanov e foi usada em 1918 para falar sobre a revolução bolchevique no livro “O Apocalipse de Nosso Tempo”: “Com um ruído, um clique e um grunhido, uma cortina de ferro desceu sobre a história da Rússia”.

– Fronteira ideológica e física –

A Cortina de Ferro entre a Europa comunista e o Ocidente, criada pelos dirigentes soviéticos para bloquear a ideologia ocidental, se materializou de forma gradual para frear a fuga de cidadãos para o lado ocidental.

Construída a partir de 1949 pela Hungria, e depois pelos demais países do bloco comunista, era composta de cercas de arame farpado, cercas, construções de cimento, alarmes energizados, instalações com disparos automáticos e minas, que se estendiam por milhares de quilômetros.

– O Muro de Berlim –

Na Alemanha Oriental, os dirigentes comunistas decretaram em 1952 uma zona de proibição de dez metros de largura ao longo da fronteira com a República Federal da Alemanha (RFA), com cercas de arame farpado e postos de controle.

Mas o dispositivo tinha uma falha. Berlim ficou dividida em duas partes – uma sob controle soviético, a outra ocidental – entre as quais se podia circular sem grande dificuldade. Cerca de três milhões de pessoas conseguiram encontrar refúgio na RFA através de Berlim Ocidental entre 1952 e 1961, fugindo da República Democrática Alemã (RDA).

O regime alemão do leste assinou o acordo de Moscou para construir o muro de Berlim em 1961, apresentado como uma “muralha antifascista”.

O muro, limitado a leste por uma terra de ninguém, media 155 quilômetros (43 quilômetros dividiam Berlim em dois de norte a sul, e 112 quilômetros isolavam o enclave de Berlim Ocidental do território da RDA). Era composto essencialmente de concreto armado com partes de cercas metálicas.

– Passo arriscado para o oeste –

A estada no oeste dos cidadãos da Europa Oriental era autorizada sob condições rigorosas.

Os candidatos ao exílio corriam todos os riscos. Entre 600 e 700 pessoas, segundo historiadores, morreram tentando fugir do regime da Alemanha Oriental.

Só o muro de Berlim provocou a morte de pelo menos 136 pessoas. Cerca de 5.000 pessoas conseguiram cruzá-lo, usando estratégias de cinema.

Uma família escapou usando o telhado de um prédio, graças a uma tirolesa que se comunicava com familiares que esperavam embaixo, do outro lado do muro. Outros fugiram a nado através do Spree, o rio que atravessa Berlim, por túneis ou escondidos em carros.

– 1989: a queda –

Em maio de 1989, a Hungria decidiu abrir sua fronteira com a Áustria, o que significou a primeira brecha na Cortina de Ferro.

Em 19 de agosto, mais de 600 alemães do leste, de férias na Hungria, aproveitaram a abertura de um posto de fronteira com a Áustria na ocasião do chamado “piquenique pan-europeu” para fugir para o lado ocidental, no primeiro êxodo em massa desse tipo desde 1961.

Os regimes comunistas da Europa Oriental começaram a cair e a URSS, então governada por Mikhail Gorbachev, não interveio. A RDA viveu manifestações sem precedentes.

Em 9 de novembro, um alto dirigente da RDA foi surpreendido quando perguntado pela data da entrada em vigor dos novos direitos de circulação para os alemães do Leste. “Que eu saiba, imediatamente”, gaguejou durante uma entrevista.

Sua resposta desencadeou uma corrida de milhares de cidadãos de Berlim Oriental para os postos de controle, onde os guardas, confusos, terminaram por retirar as barreiras.

Durante a noite, os berlinenses eufóricos celebraram o acontecimento em cima do muro, e depois começaram a destruí-lo a marretadas. Nos dois anos seguintes, a URSS desmoronou.