A Corte Internacional de Justiça (CIJ) ordenou a Israel, nesta quinta-feira (28), que garanta, sem demora, a entrega de “ajuda humanitária urgente” para Gaza, devastada após quase seis meses de guerra entre Israel e Hamas.

O conflito, iniciado após o ataque do movimento islamista em Israel em 7 de outubro, deixou o estreito território em ruínas, e seus 2,4 milhões de habitantes à beira da fome, segundo a ONU.

Israel deverá adotar todas as medidas necessárias e eficazes para garantir, sem demora, a entrega sem restrições de “serviços básicos e ajuda humanitária urgente” para a Faixa de Gaza, declarou a CIJ, o principal órgão judicial da ONU, com sede em Haia, nos Países Baixos.

Após uma demanda da África do Sul, a CIJ ordenou a Israel em janeiro que impedisse qualquer ato de genocídio no território palestino e permitisse a entrada de ajuda humanitária. Israel classificou as acusações de “escandalosas”.

O Ministério da Saúde da Faixa, território governado pelo Hamas desde 2007, informou nesta quinta-feira que ao menos 66 mortes foram registradas em Gaza durante a noite, a maioria em bombardeios israelenses.

O balanço eleva para 32.552 o número de mortos em Gaza pela ofensiva militar israelense, segundo o ministério, que detalha que a maioria dos mortos são civis.

Israel prometeu “aniquilar” o movimento islamista após o ataque de 7 de outubro no sul do território israelense, que deixou pelo menos 1.160 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados divulgados pelas autoridades israelenses.

Os combatentes islamistas também capturaram umas 250 pessoas e 130 delas permanecem em Gaza, das quais 34 teriam morrido, segundo as autoridades israelenses.

– ‘Olhos vendados’ –

Desde então, os combates não dão trégua. O Exército de Israel, que acusa os combatentes do Hamas de utilizarem os hospitais como esconderijos, prossegue com a operação iniciada em 18 de março no complexo hospitalar Al Shifa, na Cidade de Gaza, donde afirma ter “eliminado quase 200 terroristas” na área.

As tropas israelenses “transferiram civis, pacientes e equipes médicas para instalações médicas alternativas”, segundo as forças armadas.

Karam Ayman Hathat, um palestino de 57 anos que vive em um edifício próximo ao hospital, contou à AFP que “as forças israelenses obrigaram os homens a se despir e a ficar somente com a roupa de baixo”.

“Vi outros com os olhos vendados que tinham que seguir um tanque em meio a explosões”, acrescentou.

Em Khan Yunis, no sul, os soldados executam operações em áreas próximas dos hospitais Nasser e Al Amal, situados a um quilômetro de distância.

O Exército israelense indicou nesta quinta que havia “eliminado dezenas de terroristas no setor de Al Amal” e acrescentou que suas tropas “encontraram artefatos explosivos e projéteis de morteiro”.

Ghazi Agha, de 60 anos, estava em uma barraca no complexo hospitalar de Nasser quando o Exército pediu às pessoas que ali estavam deixassem as instalações.

“Avisaram pelo megafone: ‘Saiam ou bombardearemos os edifícios’. Saí com uma dezena de pessoas […] Ouvíamos explosões e disparos a todo momento”, contou.

Israel ainda planeja uma operação terrestre em Rafah, uma localidade do sul de Gaza que considera o último bastião do Hamas.

– Situação humanitária –

Cerca de 1,5 milhão de palestinos vivem confinados em Khan Yunis, a grande maioria deslocados pela violência em outras partes do território.

Os Estados Unidos, principais aliados de Israel, temem o custo humanitário dessa operação.

A recente adoção de uma resolução na ONU exigindo um “cessar-fogo imediato”, que foi possível graças à abstenção dos Estados Unidos, enfureceu o governo israelense.

Mas na quarta-feira, um funcionário de alto escalão do governo americano afirmou que o gabinete do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu está disposto, agora, a conversar com Washington sobre a possível ofensiva em Rafah.

Por sua vez, o Catar, que atua como mediador ao lado do Egito e dos Estados Unidos, afirmou esta semana que as negociações indiretas entre Israel e Hamas prosseguem, com o objetivo de alcançar uma trégua e uma troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos.

A guerra causou uma catástrofe humanitária no pequeno território palestino e a ajuda terrestre apenas entra a conta-gotas.

Paralelamente, vários países lançam alimentos de paraquedas, especialmente no norte da Faixa de Gaza, onde a situação é desesperadora.

“A ajuda alimentar costuma ser lançada em paraquedas quando as pessoas estão isoladas […] Aqui, a ajuda que necessitamos está a apenas alguns quilômetros: temos que utilizar as estradas”, disse James Elder, porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), de Rafah.

Um grupo de palestinos fazia fila nesta quinta em uma rua dessa cidade para encher sus galões de água potável.

“Não tem água na escola” transformada em refúgio, “assim que viemos aqui”, explicou Ali al Samuni, um deslocado de aproximadamente 50 anos.

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