Os registros de uma doença respiratória ainda sem causa definida identificada nos Estados Unidos deflagraram um alerta entre médicos brasileiros. A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia divulgou um comunicado para que profissionais fiquem atentos caso recebam pacientes com náuseas, tosse, falta de ar e dor na região do tórax, sobretudo se forem usuários de cigarros eletrônicos.
Há indícios relacionando os mais de 450 casos já registrados nos Estados Unidos com o uso de tais aparelhos. A sociedade sugeriu que médicos brasileiros avisem os pacientes sobre os potenciais riscos desses utensílios.
Diagnosticado com pneumonia no início do mês, o publicitário Pedro Ivo Brito, de 29 anos, teve o quadro agravado por fazer uso do dispositivo. Há um ano, o design sofisticado do cigarro atraiu sua curiosidade. “Quando eu disse que fazia uso do cigarro eletrônico no hospital, os médicos falaram que não era o único motivo, mas que agravou o meu quadro.”
O publicitário ficou internado por cinco dias no Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, e teve de passar até por uma cirurgia torácica para drenar a água que estava nos pulmões.
Brito começou a fumar cigarro comum aos 15 anos. O eletrônico, conheceu há um ano, nos Estados Unidos. “Em Miami, é comum ver as pessoas fumando cigarro eletrônico até nas ruas. Nunca foi minha intenção substituir o cigarro comum pelo eletrônico. Só que comecei a fumar mais o eletrônico. Comprei o cigarro eletrônico e um kit com quatro pods – também conhecidos como cartuchos. Paguei US$ 80 (R$ 328) pelo cigarro e US$ 20 (R$ 82) pelos pods”, conta. “O pod permite fazer misturas de substâncias e sabores, mas nunca fiz.”
Para ele, o trauma foi o melhor tratamento para abandonar os dois tipos de cigarros. “É um novo momento na minha vida. Estou focado em esporte e alimentação. Já me desfiz do cigarro eletrônico. Dei para uma amiga que é artista plástica e vai fazer uma obra para simbolizar os riscos para a saúde. Não desejo a ninguém o que eu passei.”
Estados Unidos
Não há até agora registros oficiais no Brasil ou casos suspeitos de doenças relacionadas ao uso do aparelho comunicados à Sociedade de Pneumologia e Tisiologia. Nos Estados Unidos, autoridades sanitárias e pesquisadores internacionais fizeram uma força-tarefa para tentar identificar o que levou, sobretudo jovens, a apresentar insuficiência respiratória grave. Por enquanto, um dos únicos pontos que ligam os pacientes são as “vaporadas” em cigarros eletrônicos. Parte deles relatou ter usado o aparelho para inalar THC, uma das substâncias presentes na maconha, adicionada a óleos, principalmente acetato de vitamina E. Essa substância, uma vez inalada, fica depositada no pulmão, obstruindo a passagem do oxigênio.
Parte dos usuários considera o alerta um exagero. “Se for esse realmente o problema, o uso do aparelho foi incorreto”, conta o assistente técnico Rodrigo Anterio, que começou a usar cigarros eletrônicos há sete anos para substituir o cigarro comum. “O uso de THC nunca foi o objetivo desse aparelho.” Especialistas também estudam o efeito do propilenoglicol, substância usada para produzir o efeito de fumaça.
Para o policial militar Daniel Montenegro, de 35 anos, ainda há poucos dados para assegurar que o aparelho está associado aos problemas de saúde identificados nos Estados Unidos. Montenegro lembra quando substituiu o cigarro pelo vape: outubro de 2016. “Fumava meio maço de cigarro. Ao fazer a migração, tive uma melhora no meu estado de saúde.”
O entusiasmo dos usuários não é seguido pela comunidade médica. Ainda em junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um documento afirmando que cigarros eletrônicos são, sem sombra de dúvida, prejudiciais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.