Cientistas americanos pesquisaram a razão por que algumas pessoas acham que sua urina tem um cheiro ácido depois de comer aspargos, enquanto outras não, e concluíram que a resposta está nos genes.

O escritor francês Marcel Proust certa vez descreveu esse cheiro, afirmando que tinha transformado seu “humilde urinol em uma tigela de perfume aromático”.

Parece-me que ele estava em minoria, já que três em cada cinco pessoas são incapazes de detectar tal odor, de acordo com um estudo publicado nesta quarta-feira.

Os dados de 6.909 participantes revelaram que 58% dos homens e 61,5% das mulheres tinham “anosmia de espargos”, ou a incapacidade de detectar o cheiro, de acordo com os resultados da edição de Natal da revista médica BMJ, tradicionalmente reservada para estudos que são excêntricos mas cientificamente sólidos.

Entre esta maioria, pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Harvard encontraram 871 variantes de codificação genética nos genes associados ao cheiro – sugerindo que tal incapacidade é herdada.

Profissionais debatem há muito tempo a causa do aroma acre que apenas algumas pessoas detectam na sua urina algumas horas depois de comer o vegetal.

A diferença surge porque algumas pessoas não produzem “xixi de espargos”, ou porque elas são simplesmente incapazes de sentir seu cheiro?

“Este estudo foi concebido durante uma reunião científica da qual participaram vários dos coautores, na bucólica Suécia, onde se tornou evidente que alguns de nós éramos incapazes de detectar qualquer odor incomum na nossa urina depois de consumir novos espargos da primavera”, escreveu a equipe.

Eles buscaram estudos sobre o fenômeno e descobriram dois projetos baseados nos Estados Unidos, nos quais os participantes foram perguntados sobre o “xixi de espargos” em um questionário de saúde mais amplo, em 2010.

Utilizando esses dados para sua própria análise, a equipe classificou os “cheiradores de espargos” como pessoas que “concordaram firmemente” que sua urina tinha um odor distintivo depois de comerem espargos.

O resto foi listado como afetados pela anosmia de espargos.

Enquanto uma questão ficou mais próxima de ser respondida, muitas outras ainda permanecem, disseram os autores.

Se o espargos é tão cheio de nutrientes, por que ele faria algumas pessoas desprenderem um cheiro que pode fazer com que não voltem a comê-lo?

O que causou a seleção evolucionária que fez com que alguns não tivessem as variantes genéticas relacionadas à incapacidade de sentir o cheiro do xixi de aspargos?

“E, os cientistas aceitarão os resultados do nosso estudo e aplicarão técnicas de edição de genes para fazer com que os que sentem o cheiro sejam incapazes de senti-lo?”, perguntou a equipe.

Mais pesquisas são necessárias, disseram, “antes de considerar terapias direcionadas para ajudar pessoas afetadas pela anosmia a descobrir o que elas estão perdendo”.