17/02/2022 - 8:33
Um cientista russo que trabalhava para uma universidade alemã será julgado a partir desta quinta-feira (17) em Munique, acusado de ter espionado o programa espacial europeu Ariane para Moscou, em meio a tensões entre a Rússia e o Ocidente sobre a Ucrânia.
O homem, apresentado como Ilnur N., era funcionário da Universidade de Augsburg (sudoeste) e é acusado de atuar como “agente do serviço secreto”, segundo o Ministério Público Federal alemão, competente para espionagem.
A Justiça afirma que o réu coletou informações em nome da Rússia “em diferentes fases do desenvolvimento do lançador europeu Ariane”.
Ele é acusado de ter se reunido em várias ocasiões com um alto funcionário dos serviços de inteligência estrangeiros russos, a quem transmitiu “informações sobre projetos de pesquisa no campo da tecnologia aeroespacial, especialmente sobre as diferentes etapas de desenvolvimento do lançador europeu Ariane”.
Em troca, teria recebido dinheiro equivalente a 2.500 euros (US$ 2.800), segundo o MP de Karlsruhe.
O russo, de quem poucos detalhes foram divulgados, foi preso em julho passado na Alemanha e está em prisão provisória desde então.
Quando foi detido, o jornal Bild disse que ele era um homem chamado Ilnur Nagaev.
A Universidade de Augsburg confirmou que ele trabalhava na instituição e que seu escritório foi revistado. A polícia alemã limitou-se a indicar que ele era assistente científico “para uma cadeira técnico-científica”.
– Expulsão –
Pouco depois de sua prisão, a Alemanha expulsou um diplomata russo que trabalhava no consulado de Munique. O Ministério das Relações Exteriores não tornou pública essa decisão, mas a confirmou no final de janeiro de 2022, depois que o Spiegel noticiou o caso.
O governo apenas confirmou que a expulsão desta pessoa – que se fazia passar por diplomata, mas na verdade era um agente dos serviços secretos russos – estava relacionada com espionagem.
Segundo o Spiegel, o MPF o encontrou ao investigar o cientista russo.
O julgamento ocorre em um contexto de tensões entre a Rússia e os países ocidentais, que temem que Moscou esteja planejando uma invasão da Ucrânia.
Na terça-feira, a Rússia anunciou que começaria a retirar suas tropas concentradas na fronteira com a Ucrânia, e na quarta disse que algumas de suas forças na península da Crimeia, anexada à Ucrânia, também estavam deixando a área após completar exercícios militares.
Os países ocidentais, porém, ainda aguardam a confirmação dessa suposta retirada.
O chefe do governo alemão, Olaf Scholz, que viajou a Moscou pela primeira vez na terça-feira, reafirmou que quer apostar no diálogo com o presidente russo, Vladimir Putin, mas lembrou que no caso de agressão, a Rússia estará sujeita a pesadas sanções econômicas.
– Ciberespionagem –
Nos últimos meses, as relações entre a Rússia e a Alemanha foram afetadas por acusações de espionagem cibernética contra Moscou.
No final de outubro, a Justiça alemã condenou um ex-funcionário de uma empresa de segurança da informação a dois anos de prisão por ter transmitido à Rússia dados sobre a Câmara dos Deputados alemã.
Mas o que mais contribuiu para a deterioração das relações foi a tentativa de envenenamento do opositor russo Alexei Navalny em agosto de 2020, pelo qual os ocidentais culpam o governo russo.
Os serviços de inteligência russos aumentaram consideravelmente suas atividades na Europa nos últimos anos, segundo especialistas.
Muitos diplomatas russos acusados de espionagem foram expulsos nos últimos meses da Itália, Bulgária, Holanda, Áustria, França e República Tcheca. Em todas essas ocasiões, o governo russo reagiu denunciando que as acusações eram infundadas e que se deviam a um sentimento de ódio contra a Rússia.
A Rússia também foi acusada de um ataque cibernético em grande escala em 2015 contra os computadores do Bundestag, os serviços da então chanceler Angela Merkel, da Otan e da rede de televisão TV5 Monde.