Quando a microbiologista Natalia Pasternak foi homenageada na edição “Brasileiros do Ano” da ISTOÉ, em 2020, o planeta observava a alta de mortes por Covid e assistia ao debate sobre a vacinação como única alternativa para o controle da pandemia. Passado um ano, a láurea se renova à Natalia como uma representante da ciência e do bom senso, entre os homenageados de 2021. A pesquisadora atua como professora visitante na Columbia University, nos EUA, e preside o Instituto Questão de Ciência (IQC), aqui no Brasil, além de ser colunista em diversos veículos de comunicação. A relevância do trabalho levou a cientista a ser consagrada com vários prêmios no Brasil e exterior. A BBC acaba de indicá-la como uma das 100 mais influentes e inspiradoras mulheres no mundo. Hoje, graças à militância de cientistas por todo o planeta e conscientização das pessoas, o coronavírus está em declínio e grande parte dos países está em processo avançado de vacinação. Nesse cenário, o Brasil é um exemplo, influenciado pela qualidade de cientistas como Natalia.

A microbiologista é uma entusiasta da comunicação da ciência. Esse foi o principal motivo pelo qual ela fundou o IQC, em 2018. Ela não podia prever o quanto a iniciativa iria contribuir com o País em tão pouco tempo. Natália é uma voz com a clareza necessária para explicar os cuidados que podem evitar a contaminação pelo coronavírus, sempre apresentando uma versão inteligível ao senso comum. A boa comunicação salvou vidas. A pesquisadora credita o sucesso da vacinação a um projeto de longo prazo. “A pandemia mostrou que o investimento durante 50 anos em comunicação e valorização das campanhas de vacinação formaram a consciência da população que aderiu, mesmo com um presidente dizendo que os imunizados se transformariam em jacaré ou pegariam Aids”. Num cenário em que a maior autoridade do País fez tudo ao inverso do que os brasileiros precisavam, a contraposição foi fundamental.

O novo foco da cientista é ampliar o olhar dos líderes mundiais para os países mais pobres. “É preciso organizar uma ação humanitária global para vacinação em massa, caso contrário, novas variantes da Covid continuarão surgindo”, explica. Natalia diz que a ômicron parece ser menos agressiva, mas que ainda precisa ser estudada e não pode ser ignorada. Ciente dos anseios daqueles que ficaram tanto tempo por isolamento social, ela diz que as pessoas precisam comemorar cada vitória. “Já dá para celebrar com a família no fim de ano, mas as festas públicas com multidões como Réveillon e Carnaval podem mais um ano.” O ano de 2022 traz muitas expectativas com a eleição presidencial e Natália é cética quanto à maturidade adquirida pela população durante a pandemia. Ela entende que, com a redução do problema, o cidadão comum tende a esquecer a importância da ciência. “Mas eu gostaria muito de ver o debate do investimento em pesquisa ser pautado de uma forma séria por todos os candidatos à Presidência”.

Influência internacional

A microbiologista Natalia Pasternak tem ampliado a influência das pesquisas brasileiras na comunidade científica internacional com uma rara qualidade entre os acadêmicos: a capacidade de traduzir estudos de alta complexidade para um público que é leigo. A pedido das Organizações das Nações Unidas (ONU), ela integra a Equipe Halo, que divulga a importância das vacinas por meio da plataforma TikTok. Atua em pesquisas na Universidade da Columbia e reside em Nova York. A distância geográfica, no entanto, não diminuiu a importância da pesquisadora no combate à pandemia no Brasil, ao contrário: Natalia fortalece o bom nome da ciência brasileira no campo da imunização. Ela é inspiração para as novas gerações que assistiram o debate científico vencer o negacionismo espalhado por meio de fake news. O reconhecimento do seu trabalho veio com prêmios e, principalmente, com resultados: milhões de vidas foram salvas pela vacina.