Se existe uma profissão que desafia a lógica, é a Ciência Política.

Pelo menos no Brasil.

Porque nosso País é um laboratório no qual os experimentos eleitorais nunca atenderam ao rigor científico.

Se a Ciência é o ápice do conhecimento humano e a vitória da curiosidade transformada em fórmulas e teorias, a política brasileira é exatamente o oposto.

Por aqui não existe cálculo probabilístico possível, o que torna o trabalho de nossos cientistas políticos um esforço sobre humano diário.

Nesse campo, a gravidade dos fatos empurra a popularidade para cima.

A massa afasta o bom senso.

Corrupção não tem peso. É invisível ao olho nu e aos votos.

Enquanto a matéria prima da Ciência são as pesquisas, que comprovam, a cada repetição, os resultados esperados de uma determinada teoria, na política brasileira, as pesquisas servem exatamente para provar o oposto do que se espera.

Qualquer cientista poderia desenhar uma fórmula onde o crescimento dos preços fosse inversamente proporcional à popularidade de um ministro da Economia, por exemplo.

Aqui não. Sobem os preços e a popularidade dos governantes idem.

Ciência baseia-se em fórmulas cujas variáveis atestam os resultados práticos.

No Brasil de hoje, Einstein morreria de fome

Na política brasileira, qualquer fórmula pode funcionar ou não, de acordo com variáveis que ninguém pode imaginar.

O presidente expõe seus mais íntimos preconceitos, coisa de deixar envergonhado o mais ardoroso machista, e o ponteiro da balança de precisão da intenção de votos nem se mexe. Ou sobe.

Num ano de eleições, então, a distância entre Ciência e Política é medida em anos luz, porque somados aos fenômenos impostos pelo governo, esses que desafiam a intuição e a realidade, somam-se as ocorrências empíricas dos pré-candidatos.

Num ano de eleição, surge uma nova tabela periódica, com elementos nunca antes identificados, ou cuja existência era apenas teórica.

Um desses elementos, de propriedades ainda pouco conhecidas, foi batizado por “Terceira Via”.

Trata-se do produto resultante da aceleração das partículas de dois outros elementos, o “líder das pesquisas” e o
“segundo colocado”.

Segundo teóricos, existiria a possibilidade de surgir o elemento Terceira Via se combinadas as corretas doses de publicidade, irritação do eleitorado e rejeição aos elementos com mais carga elétrica no pleito.

Segundo os cientistas políticos de plantão, o elemento terceira via funcionaria como uma espécie de antimatéria eleitoral.
Aproximando-se do dia da votação, esse elemento seria capaz de causar a fissão nuclear das urnas, causando uma explosão de votos.

Ocorre que nunca se comprovou essa teoria e, ao que tudo indica, não será nesse ano que teremos sua contraprova, porque o peso atômico dos elementos que disputam essa eleição são baixos demais para se converterem nessa tal terceira via.
São elementos que não possuem capacidade de se combinar em moléculas mais complexas dadas as condições de temperatura e pressão atuais.

Ciro Gomes é um átomo instável. Entra em ebulição em temperatura ambiente.

Para Simone Tebet faltam elétrons para possíveis conexões químicas importantes.

Moro provou ser um gás inodoro e extremamente volátil. Evaporou em contato com o ar.

Restam, então, os componentes químicos mais conhecidos.

Aqueles que nos últimos anos criaram substâncias nocivas para nossa saúde e para os quais calculamos que a próxima eleição poderia ser o antídoto.

Infelizmente, no atual espaço-tempo político cada vez fica mais claro que só existe uma solução para o teorema de outubro.
E não se trata de uma vacina.

Ao que tudo indica, seremos obrigados a tomar uma overdose de um de dos venenos conhecidos.

Teremos que matar as esperanças para dar sobrevida ao paciente.

Teoricamente, claro.