Com o aquecimento global e derretimento das calotas polares, muitas cidades litorâneas precisarão mudar completamente o seu plano urbanístico. Em casos graves, podem até sumir do mapa e ficar abaixo d’água. E isso não é obra de ficção: o risco de que até 50% das praias arenosas do mundo possam ser eliminadas até 2100 é real, como detalha o estudo “Sandy coastlines under threat of erosion”, publicado na revista científica “Nature Climate Change” em 2020. No Brasil, as praias das regiões Sul, Sudeste e Nordeste podem perder até 150 metros de suas orlas, e avenidas e prédios beira-mar com o avanço das águas.

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Se a tragédia é inevitável, soluções podem ser tomadas, ainda que temporárias. Balneário Camboriú, em Santa Catarina, já começou o processo de alargamento de sua orla que sofre com diversas ressacas e a constante invasão das águas marítimas que chegam a alagar ruas e até o hall de entrada dos prédios. “A adaptação ao impacto das mudanças climáticas é irreversível. São investimentos volumosos como alargar a orla e construção de diques e infraestrutura de contenção e muros”, afirma a pesquisadora da Unicamp Ana Ávila. O professor de Ecologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Magno Botelho diz que essas medidas são paliativas e “definitivamente não suportariam o que se espera de elevação do nível do mar nos próximos 100 ou 200 anos.” E não só Santa Catarina. Cidades densamente povoadas como Rio de Janeiro e outros municípios fluminenses, a Baixada Santista (SP), Caraguatatuba (SP) e São Luís (MA) estão na lista das regiões que devem sofrer o impacto de maneira significativa. A cidade de Atafona, no Rio de Janeiro, sente o peso da erosão e avanço do mar: já se foram oito quarteirões e mais de 500 edificações.

Cientistas apontam que a única forma de deter esse problema é diminuir o ritmo do aquecimento global. Mas uma ampla pesquisa feita por três instituições (Stanford, East Anglia e Global Carbon Project), também publicado pela “Nature Climate Change” em março, traz uma conclusão alarmante: embora 64 países tenham diminuído as emissões de CO2 entre 2016 e 2019, a taxa de redução global precisaria ser dez vezes maior se o objetivo for alcançar as metas estabelecidas no Acordo de Paris, de 2015. Já os dados do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC), comandado pela ONU, revelou em um relatório em fevereiro que as metas atuais do compromisso firmado na França não são suficientes para que o aquecimento global fique abaixo de 2°C até 2100. Assim, resta esperar que os governos consigam se comprometer com metas ambiciosas para reduzir a deterioração ambiental. Se nada for feito para evitar que o aquecimento chegue ou passe os 2°C, destinos famosos virarão turismo apenas para quem gosta de um bom mergulho.