Esta Miami não tem praias nem festas em iates. Muito menos luxuosas propagandas de apoio a Donald Trump. Não é necessário. Nesta cidade do norte do Texas, o republicano tem o maior percentual de apoio nos Estados Unidos.

Miami, o único município do condado de Roberts, tem o mesmo nome da famosa cidade da Flórida, mas se pronuncia com um som de “ah” no final, explica Rick Tennant, um gentil juiz aposentado que costuma jogar dominó com seus vizinhos em sua oficina mecânica.

Como é permitido o voto antecipado, Tennant já o fez, e nesta terça-feira, enquanto Trump e a vice-presidente democrata Kamala Harris discursavam em meio à acirrada disputa pela Casa Branca, ele trabalhava tranquilamente em seu estabelecimento.

“Acho que vou ficar mais contente se Trump ganhar, meu dinheiro estará mais seguro”, diz Tennant, que sempre vota nos republicanos.

Com 827 habitantes no condado, a tranquilidade das ruas e seus semáforos com luz âmbar piscante são interrompidas de vez em quando pelo apito dos trens de carga que passam ao lado da cidade.

Neste dia de eleições, as ruas estavam tão calmas como sempre. Dias antes, a chegada de jornalistas alterou a rotina da cidade. Em sua maioria, e sem perder a cordialidade, os moradores preferem evitar entrevistas.

Em 2016, 96% dos votos do condado – 524 republicanos contra 20 democratas – tornaram Miami o local mais trumpista do país.

O cenário se repetiu em 2020 – 529 contra 17 – embora Trump tenha perdido para Joe Biden nessa ocasião.

O jardim da casa do motorista aposentado Julian Huff, de 68 anos, é um dos poucos que tem uma bandeira de apoio a Trump. Ele votou nesta terça-feira no Centro Comunitário de Miami.

Ecoando as acusações feitas por seu candidato, ele acredita que a eleição de 2020 foi “roubada”.

Trump “é o homem certo para o trabalho e ele vai ganhar, porque não podemos mais suportar o que está acontecendo com essa questão política”, diz.

Ele confia na promessa de deportações em massa de imigrantes ilegais. “Espero por fronteiras muito mais seguras, porque esses [imigrantes] ilegais serão presos. Eles devem chegar legalmente, como fizeram meus antepassados”, comenta após votar.

– Por que Trump? –

Por que Trump? “Pelos valores cristãos”, diz Randy Crismas, de 57 anos, proprietário de um posto de gasolina e uma oficina de pneus.

“Esta comunidade é uma das mais unidas em que já tive o luxo de viver. Cuidamos uns dos outros. Podemos discutir, mas no final do dia, somos uma grande família na cidade. Os valores republicanos falam sobre isso”, acrescenta.

Cercada por fazendas, sua população vive da agricultura, pecuária e pequenos negócios. Outros trabalham nas plantas de gás e petróleo em terrenos vizinhos.

Miami é famosa localmente pela sua competição anual para escolher o fazendeiro com o melhor grito para chamar as vacas.

Tem três igrejas de diferentes devoções, um museu variado que abre de terça a sexta-feira e uma pequena loja de alimentos.

Para Crismas, desta vez os Estados Unidos precisam escolher “o menor dos dois males” e, entre os dois, “Trump tem seus problemas, mas é um homem de negócios”, e isso é o que ele valoriza.

Ele acredita que o governo atual está com a economia fora de controle e que Trump pode resolver o problema.

– ‘Não sairemos matando’ –

Vizinhos como Huff ou John Locke, um empresário de 51 anos, consideram que o governo democrata está levando os Estados Unidos a uma terceira guerra mundial, devido aos conflitos internacionais em que o país está envolvido. Eles acreditam que Trump vai colocar fim a essa situação.

Acusações que foram desmentidas pelas autoridades – como as supostas irregularidades que impediram a vitória de Trump em 2020 ou a alegação de que o FBI apoiou os manifestantes no ataque ao Capitólio em janeiro de 2021 – são coisas que Locke acredita que realmente aconteceram.

Ele é a favor do aborto, mas acredita que cada estado deve decidir por si mesmo, e não o governo federal.

Locke esclarece que uma coisa é não concordar e outra é não viver em harmonia em uma cidade pequena. “Não rebaixamos os democratas. Essa é a crença deles e eu não vou tentar impor as minhas a eles”, comenta Tennant.

“Gostamos da nossa moral, dos nossos valores, amamos a Deus e nossas armas, e queremos que nos deixem em paz. Vamos aceitar quem ganhar, seja Kamala ou Trump. Não vamos concordar, mas não sairemos roubando ou matando pessoas. Nosso lado não faz isso”, afirma Locke.

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