Cid afirma que juiz do TSE repassava informações para golpistas

Acusação foi feita em depoimento ao próprio ministro do STF em dezembro do ano passado; não há denúncias contra membros da Corte Eleitoral

Cid afirma que juiz do TSE repassava informações para golpistas

O ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, afirmou, em depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que um juiz auxiliar do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) era um dos informantes da cúpula golpista. A fala consta na delação premiada firmada com a Polícia Federal e divulgada nesta quarta-feira, 19.

De acordo com Cid, o juiz repassava detalhes e informações sobre as urnas eletrônicas para embasar o documento do então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. Na época, os aliados de Bolsonaro tentavam apontar fraudes nas urnas eletrônicas para invalidar as eleições de 2022.

“A informação do dia 16, ela foi pedida por esse pessoal, né? A pessoa queria saber por onde o senhor ia estar. E eu perguntei para o coronel Câmara, né, e eu não sei, não sei bem quem era… não conheço o contato dele. Inclusive, uma informação que eu sei, né, até, é que um dos contatos dele era um juiz, eu não sei dizer a função, mas é um juiz do TSE. Inclusive, era ele que auxiliava as Forças Armadas a redigir os documentos que o general Paulo Sérgio encaminhava para o senhor”, afirmou Cid.

“Ele mais ou menos dizia: vai nessa linha, escreve isso aqui. Mas eu não sei efetivamente o nome dele”, concluiu.

Cid evitou afirmar que o juiz teria sido um dos informantes sobre os passos de Moraes na operação Punhal Verde e Amarelo, que previa a morte dele e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele disse não ter essa informação, mas confirmou que a parte técnica sobre as urnas era repassada pelo magistrado.

“Não, não, eu não sei confirmar, eu não sei se ele tinha acesso à agenda do ministro. Eu não posso dizer que era ele. Eu sei que, na parte do TSE, na parte de urnas, aquele negócio todo, quem passava as informações era ele, a parte mais técnica da coisa”, afirmou.

Cid ainda confirmou que um dos últimos monitoramentos feitos de Moraes, no fim de 2022, foi a mando de Jair Bolsonaro. A declaração já tinha sido dada à Polícia Federal, mas ele corroborou a informação em depoimento ao STF.

De acordo com ele, Bolsonaro teria ficado preocupado ao saber que o ministro do STF poderia se reunir com membros do Palácio do Planalto, como o vice à época, general Hamilton Mourão. Cid, então, pediu ao general Marcelo Câmara, assessor da presidência e responsável por monitorar Moraes, que repassasse as informações.

“E o último monitoramento, a gente faz aquela brincadeira, né, professora tal, foi… essa aí foi o presidente que pediu. Essa aí foi o próprio presidente que pediu. Inicialmente, eu entendia, quer dizer, para mim já era”.

“A informação era que seria porque o senhor iria se encontrar ou com o general Mourão ou com alguém do governo dele. E o presidente estava meio nervoso com isso aí, né, então ele queria saber. Essa foi a informação que eu recebi. E, novamente, eu usei o coronel Câmara, eu pedi ao coronel Câmara para tentar colher essa informação”, ressaltou Cid.

Mesmo com a citação na delação, a investigação da Polícia Federal não chegou ao nome do juiz que atua no TSE. Não há, portanto, denúncias contra membros da Corte Eleitoral.

A IstoÉ entrou em contato com o TSE para saber se há alguma investigação interna em curso, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.