13/12/2024 - 10:27
Jaime Ortiz Marino, um entusiasta da bicicleta, liderou uma revolução há 50 anos. Ele é o criador da Ciclovia de Bogotá, uma contracultura ao uso de carros que inspirou o mundo.
Em 15 de dezembro de 1974, o arquiteto obteve uma licença para um protesto único contra a superlotação de carros: fechar uma área da capital colombiana para carros e andar de “bike” pelo centro da via com outras 5.000 pessoas.
O primeiro grande evento desse tipo no mundo rapidamente se tornou uma tradição popular de domingo.
A Ciclovia foi imitada por cerca de 200 cidades ao redor do mundo, de acordo com a prefeitura.
Todos os domingos, cerca de 1,7 milhão cidadãos de Bogotá caminham, pedalam, andam de patins ou praticam outras atividades físicas ao longo de 127 quilômetros de ruas livres de carros, de acordo com dados oficiais.
Os passeios de domingo são um alívio bem-vindo para os habitantes de uma das maiores metrópoles da América Latina, com um dos piores tráfegos da região e assolada pela poluição do ar.
“A Ciclovia faz parte da alma de Bogotá”, diz Camilo Ramírez, um especialista em migração que estava correndo com sua esposa atrás de seus filhos, de 5 e 12 anos, ambos em bicicletas.
Da Cidade do México a Santiago e São Paulo, várias cidades latino-americanas implementaram programas semanais de ruas abertas nos últimos 20 anos.
Em 2024, a Ciclovia de Bogotá ajudou a reduzir o equivalente a 444 toneladas de CO2, de acordo com números fornecidos à AFP.
Além disso, Ortiz descreve a Ciclovia como uma “válvula de escape” para a quarta maior cidade da América Latina, cuja população cresceu dez vezes nos últimos 50 anos, passando de 800 mil para oito milhões.
O crescimento populacional e o precário planejamento urbano fazem de Bogotá uma cidade com cada vez mais carros, no entanto com menos espaço para eles dirigirem.
Das grandes cidades da região, ela é a única que ainda não tem um metrô, cuja construção está apenas começando.
O Índice de Tráfego Urbano da TomTom classifica Bogotá como a segunda área metropolitana mais congestionada do mundo em 2023, depois de Manila.
A terceira capital mais alta do mundo, depois de La Paz e Quito, pode parecer um lugar pouco amigável para começar uma revolução em uma “bike”.
No entanto, a paixão dos colombianos pelo ciclismo vem de gerações, alimentada pelas façanhas de lendas da modalidade, como Luis “Lucho” Herrera, vencedor da Vuelta a España em 1987, e Egan Bernal, o primeiro latino-americano a vencer o Tour de France, em 2019.
Assim como os pais de muitos desses ídolos, na Colômbia, os camponeses e a classe trabalhadora usam bicicletas para ir ao trabalho.
Antes da Ciclovía, “sabíamos que (…) na maioria das casas tinha uma bicicleta”, mas não havia espaços para pedalar, lembra Ortiz.
Atualmente, Bogotá tem cerca de 600 km de pistas construídas apenas para ciclistas.
Além de sua contribuição para o exercício físico e o meio ambiente, a Ciclovia também se tornou uma fonte de emprego em um país onde 55% dos trabalhadores são informais.
“Aqui ganhei o que preciso para pagar os estudos da minha filha, meu próprio bem-estar e minha casa”, diz Eladio Gustavo Atis, um mecânico de 56 anos que conserta furos e enche pneus para ciclistas há 32 anos.
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