O plantio da soja da safra 2016/2017 ainda não deslanchou. Apesar de as chuvas terem começado mais cedo, meteorologistas alertam que a regularização da estação das águas só deve ocorrer a partir de novembro. Além da incerteza climática, produtores citam a dificuldade de acesso a crédito, a escassez de recursos próprios após as perdas da safra 2015/2016 e o custo elevado de insumos como fatores a recomendar prudência na hora de semear a oleaginosa.

A cautela vai na contramão da previsão de colheita da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgada na quinta-feira em Brasília. O País deve colher um recorde de até 214,8 milhões de toneladas de grãos neste ciclo – volume até 15,3% maior ante a temporada anterior. Para a soja, a Conab prevê aumento de até 9%, para 104 milhões de toneladas.

Em Mato Grosso, maior Estado produtor, com 29,1 milhões de toneladas projetadas pela Conab (12% mais ante 2015/2016), produtores dosavam a velocidade das plantadeiras e da cobertura da área conforme previsão do tempo. O Oeste do Estado é a região na qual o plantio está mais adiantado, com 36,31% da área já coberta, segundo o Instituto Mato- Grossense de Economia Agropecuária. Em Campo Novo do Parecis, a chuva demorou mais para chegar ao município, mas, quando veio, alcançou amplamente as áreas de lavoura, disse a presidente do Sindicato Rural, Giovana Velke, ao Broadcast Agro, sistema de notícias do agronegócio em tempo real da Agência Estado. “De domingo para cá, choveu em quase toda a região, e todo mundo está plantando”, disse.

No Meio-Norte, segunda região mais adiantada em Mato Grosso, com 24,47% da área semeada, além das chuvas irregulares, agricultores sofreram com atraso na entrega de sementes. Em Nova Mutum, o plantio teve início entre 25 e 28 de setembro, com chuvas ainda esparsas e em áreas isoladas. A partir de 4 de outubro, a região recebeu chuvas volumosas. Ainda assim, há quem só plantará a partir do dia 10.

Sementes

“Agora estão entregando sementes, mas ainda há problemas de qualidade, como germinação baixa”, disse o presidente interino do Sindicato Rural do município, Emerson Zancanaro. O clima ainda preocupa, mas a expectativa é de boas condições em novembro. “Estamos apreensivos com a possibilidade de seca de 15 a 20 dias em outubro, mas o produtor vai plantar igual.”

Embora os recursos para pré-custeio e custeio – necessários para adquirir adubos, agroquímicos e sementes – tenham chegado ao campo no período esperado, muitos produtores precisaram renegociar dívidas e tiveram o limite de crédito reavaliado. “Tivemos quebra na safra passada; o produtor está com crédito restrito”, disse Zancanaro, acrescentando que uma das saídas é o financiamento por meio de “barter” – operação na qual o produtor adquire insumos diretamente de empresas e quita a dívida com grãos, após a colheita.

Ainda assim, sojicultores esperam que um bom resultado em 2016/2017 permita uma maior facilidade de financiamento e um aumento no uso de recursos próprios no custeio da safra seguinte.