Moradores da capital paulista ainda enfrentaram transtornos neste domingo, 5, com a falta de energia ocasionada após as fortes chuvas que atingiram a capital paulista na tarde de sexta-feira, 3. Segundo a Enel Distribuição São Paulo, as regiões mais afetadas foram as zonas sul e oeste, embora também existam relatos do problema nas zonas leste e norte.

O temporal, que também atingiu outras cidades do Estado e causou sete mortes, fez com que cerca de 700 mil endereços permanecessem sem luz na cidade até o início da noite de ontem. A previsão é que o serviço seja totalmente restabelecido até amanhã.

Ao todo, 2,1 milhões de clientes foram impactados desde sexta-feira. A Enel SP afirma que já normalizou o serviço para cerca de 1 milhão de endereços. “A companhia está restabelecendo de forma gradual o serviço, dando prioridade aos casos mais críticos, como serviços essenciais”, disse a Enel.

No Paraíso, na zona sul, moradores estavam havia 48 horas sem luz. Segundo Kátia Oliveira, também havia dificuldade para obter previsão da Enel. “Muitas árvores caíram na região. Mas é muito tempo sem energia. A empresa deu prazo inicial para meia-noite de sábado. Já é domingo, e nada de retorno. Creio que somente na terça mesmo”, disse ontem.

Segundo o prefeito Ricardo Nunes (MDB), os ventos superiores a 100 km/h chegaram à maior velocidade já registrada pelo Centro de Gerenciamento da Metrópole (CGE), desde 1995, quando os dados começaram a ser computados. “Foi uma situação excepcional. Muito fora do contexto.” Nunes disse ainda que quedas de árvore também exigem desligamentos temporários da rede.

A Enel afirma que “essa foi a ventania mais forte dos últimos anos em São Paulo, que atingiu de forma mais severa a rede de distribuição.”

Mudanças climáticas

Temporais como o de sexta-feira estão associados às mudanças climáticas e demandam adaptação de instalações urbanas, alerta o professor do programa de pós-graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP) Pedro Luis Côrtes. “Para se adaptar a essas novas condições impostas, uma das questões básicas é cuidar intensamente da manutenção das áreas verdes, verificando se as árvores estão saudáveis, a necessidade de podas corretivas para que elas possam resistir a eventos climáticos mais extremos”, diz.

Ele recomenda que seja feito um mapeamento de áreas mais vulneráveis às chuvas. Nesses locais, diz, seria necessário transferir a fiação aérea para debaixo do solo. Assim, eventuais quedas de árvores e postes não causariam a falta de luz. “Não é um empreendimento fácil nem barato. Há inclusive uma discussão de quem arcaria com esses custos. Mas isso precisa ser feito, porque o que temos visto é uma repercussão muito ruim, com regiões há mais de 24 horas sem energia.”

Vento derrubou 346 árvores em parques

As fortes chuvas e rajadas de vento que atingiram grande parte de São Paulo na sexta-feira, 3, derrubaram 346 árvores dentro dos parques da cidade, segundo a Prefeitura de São Paulo. Os parques onde mais caíram árvores estão na zona sul: o Ibirapuera, com 128 quedas, o Santo Dias, com 61, e o Nabuco, com 26 quedas.

Ao todo, mais de 40 municípios, incluindo a capital paulista, tiveram ocorrências por queda de árvores. Foram mais de 2 mil chamados para ocorrências desse tipo de acordo com as defesas civis e o Corpo de Bombeiros em todo o Estado, conforme informou a Defesa Civil estadual.

As rajadas de vento chegaram a 104 km/h em alguns pontos da cidade. Especialistas apontam que ventos acima de 80 km/h podem arrancar até mesmo árvores sadias. O impacto das rajadas, porém, poderia ser reduzido com massa arbórea mais densa, já que, ao entrar pela rua, o vento pode até aumentar sua velocidade.

Recuperação de áreas

Em razão da intensidade do temporal, desde o início da chuva e ao longo da noite, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) acompanhou os trabalhos dos agentes da Prefeitura em vários pontos da cidade para recuperação de áreas afetadas.

“Equipes das subprefeituras, da Defesa Civil e agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), em conjunto com a Enel, passaram a noite, a madrugada e estão nas ruas de todos os bairros da cidade para recuperação de áreas afetadas”, disse a Prefeitura.

Poucas vias da cidade têm fios enterrados, a exemplo do que ocorre na Avenida Paulista. O mais comum é um emaranhado de cabos, alguns deles entrelaçados a galhos de árvores.

A proximidade do verão, época do ano em que a ocorrência de chuvas fortes é mais recorrente, exige ações de zeladoria emergenciais para evitar a repetição destes acidentes. Em 2024, há um agravante: o El Niño, fenômeno climático que acentua as precipitações. (COLABOROU GUSTAVO CÔRTES)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.