Para engenheiros especialistas em mobilidade e urbanismo, o temporal desta segunda-feira, 10, e as consequências que ele trouxe para a cidade de São Paulo devem servir como alerta para alterações na legislação do município, priorização de obras e mudança de cultura da população. Eles explicam que o caos enfrentado na capital paulista é resultado de uma série de erros.

“Nós estamos matando a cidade com essa verticalização absurda, com obras que só pensam no visual, com o lixo sendo descartado de forma errada. Essa chuva de hoje deveria ser tratada como os incêndios nos edifícios Joelma e Andraus foram para São Paulo, como um evento que serve como lição para mudarmos tudo o que está sendo feito”, diz Horácio Figueira, engenheiro especialista em trânsito.

Ele explica que nos últimos anos a cidade eliminou praticamente todas as áreas permeáveis, canalizou rios, sem que as obras levassem em consideração para onde as águas da chuva vão escoar. “A cidade foi sufocada, onde se olha está tudo alagado”, diz. Para ele, é preciso que o poder público faça urgentemente uma série de obras, desde o desassoreamento de rios e córregos até a construção de galerias pluviais em todos os bairros.

“O Tucuruvi que é um bairro antigo não tem até hoje galeria pluvial nas suas principais vias. Isso é negligência, irresponsabilidade do poder publico. A avenida Tucuruvi não tem essas galerias e a água escorre pelas ruas e vielas paralelas, formando rios que alagam as casas”, diz o especialista.

Sérgio Ejzenberg, consultor de trânsito, diz que os alagamentos nas marginais Tietê e Pinheiros também são consequências já esperadas, uma vez que os rios estão sem obras necessárias para o seu desassoreamento. “Estão fazendo uma licitação bilionária para essas obras, mas elas deveriam ter ocorrido muito antes. A situação de hoje deixa isso evidente”. Ele se refere às obras de R$ 2,5 bilhões anunciadas no ano passado pelo governador João Doria (PSDB).

Incentivos

Além das obras públicas, como piscinões, desassoreamento dos rios, os especialistas também defendem que o poder público deve mudar a legislação para exigir que construçoes privadas tenham áreas permeáveis ou criar incentivos para que imóveis já construídos invistam em obras desse tipo.

“A Prefeitura poderia, por exemplo, dar desconto no IPTU para quem trocar a área cimentada do quintal de casa por uma área verde e piso permeável, ou para prédios que tenham reservatório para chuva. São ações que não resolvem o problema, mas o minimizam e que, em conjunto com outras intervenções, podem mudar esse quadro que vivemos hoje”, diz Figueira.