O serviço de inteligência da polícia do Rio de Janeiro não entendeu o recado dos traficantes do Morro Dona Marta que colocaram um fuzil na estátua de Michael Jackson. O simbolismo dessa arma pendurada é sutil – mas muito grave. O que o crime organizado quer dizer é o seguinte: daqui para frente, ou prevalecem as suas manifestações culturais (o famigerado baile funk batidão, por exemplo) ou vai ter tiro. Assim, as organizações criminosas marcam posição em uma área que parecia não lhes interessar. O Rio de Janeiro, que já foi o da “rua Nascimento e Silva 107, você ensinando pra Elisete, as canções de canção do amor demais”, é agora de meliante que assa os desafetos dentro de pilha de pneus. Até a quinta-feira 17 o governo contava noventa e sete PMs assassinados desde o início do ano – na foto, a viúva Munique Gomes chora a perda do marido policial, que engrossou a estatística: um, em cada três PMs mortos no Brasil, é do Rio de Janeiro. Há cerca de vinte anos, Michael Jackson subiu o Dona Marta para gravar o clipe de “They Don’t Care About Us”, dirigido por Spike Lee. Em um trecho, referindo-se aos governantes, o astro pop dizia: “eles não ligam para a gente”. Tudo segue igual. Os traficantes mostraram que no Morro Dona Marta a cultura é a deles. Só nos resta chorar com Munique, por Munique e por nós mesmos.

R$ 10 milhões

é quanto Sergio Moro liberou para João Santana e Monica Moura. O casal, condenado por lavagem de dinheiro, está com sua fortuna bloqueada e alega dificuldades financeiras.Compensou-lhes agir à margem da lei. Pobre ou desempregado honesto não tem de onde tirar R$ 1. Os dois marqueteiros, desonestos, recebem essa dinheirama de volta

PERSONAGEM
O gol social de Neymar

FABRICE COFFRINI

Neymar tornou-se na semana passada embaixador da ONG Handicap International. Atua junto a pessoas em situação de risco, pobreza e exclusão social. Cerca o craque brasileiro, hoje bilionário mas que já foi pobre, a expectativa de que lute de fato pelos excluídos – luta muitas vezes prometida mas esquecida por grandes astros de Hollywood que já representaram a mesma ONG. Neymar tomou posse na cadeira que simboliza a instituição, obra do artista plástico suíço Daniel Berset, instalada diante da sede da ONU, em Genebra. No Brasil, ele criou o Instituto Neymar Jr., que cuida de crianças carentes.

TRADIÇÃO
E o Big Bem ficará mudo

Alberto Pezzali

Instalado há 157 anos no Palácio de Westminster, o Big Ben é um dos maiores orgulhos dos britânicos – nem na II Guerra Mundial, com Londres sob bombardeios, ele deixou de funcionar. Cansou. A partir da segunda-feira 21, ele ficará paralisado para ampla revisão. O que se chama big ben é o seu sino. Peso? 13,7 toneladas.

ARGENTINA
Cristina Kirchner garante o Senado

DANIEL VIDES

A consulta popular primária realizada na semana passada na Argentina e que pesará nas eleições legislativas de outubro confirmou um favoritismo e surpreendeu com uma ressuscitação. O primeiro ponto refere-se ao fato de a coalizão do presidente Mauricio Macri ter sido a mais votada, fazendo crer que o seu partido monte forte bancada na renovação de um terço do Senado e de metade da Câmera. A surpresa é a volta (por cima) à vida política da ex-presidente Cristina Kirchner, hoje respondendo à Justiça. Ela se impôs como a principal força de oposição graças à votação na região metropolitana da capital do país, Não há dúvida de que conquistará uma cadeira no legislativo.

CINEMA
Dois gênios, e a carta do último ato

Daryan Dornelels/Folhapress

Estreia na segunda-feira 21, no Festival de Cinema de Gramado, o documentário “Paulo Autran – O Senhor dos Palcos”. É dirigido por Marco Abujamra (garantia de perfeição) e acrescenta uma raridade na história do teatro brasileiro: a última carta de Autran, escrita em 1º de outubro de 2007 (morreu dez dias depois). A destinatária: Fernanda Montenegro. Em um dos trechos que mais a emocionou, ele registrou: “choro como uma criança (…), o infarto foi o meu fim como ator”. Na resposta de Fernanda há uma premonição: jamais haveria nos palcos do País um substituto para ele. “Toda a nossa geração para, todos nós vamos com você”, escreveu a atriz em sua carta de resposta.

JUSTIÇA
O STF dividido

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O STF julgará nos próximos dias o mérito de uma questão que divide o seu plenário: um réu condenado em segunda instância (ou seja, sem sentença do próprio STF) já tem de começar a cumprir pena? Isso está valendo desde outubro, mas liminarmente (numa votação apertada por seis a cinco). A presidente Cárnen Lúcia garantiu recentemente que a Corte não mudará de posição. O ministro Marco Aurélio declara que a tendência é o plenário reverter a decisão.
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