O poder de um presidente da República é altamente solitário. Ele tem que decidir, dar variadas opiniões, entender todas as demandas do País e levar em conta as articulações diante do conhecido “fogo amigo”. Bolsonaro sempre foi um deputado do baixo clero e, por isso, se acreditava que ele não teria qualquer chance de administrar o País. E não sabe mesmo. Mas ele é astuto o suficiente para conter os ímpetos de congressistas gananciosos. Emendas, cargos, favores são muito bem-vindos e esfriam os bastidores de Brasília. E agora sabemos que ele chora sozinho no banheiro e “dona Michelle” nem fica sabendo.

Foi ele mesmo quem disse isso num encontro organizado por uma Igreja Evangélica na noite desta quinta-feira, 14, em Brasília. “Quantas vezes eu choro no banheiro em casa? Minha esposa (Michelle Bolsonaro) nunca viu. Ela acha que eu sou o machão dos machões”. E não é, claro. Bolsonaro é um fraco, que agora chora no banheiro, mas já fez chorar milhões de famílias de brasileiros que morreram de Covid porque ele não trouxe vacinas na hora certa e mandou todo mundo tomar cloroquina, levando milhares à morte. E agora estão sendo responsável pela volta da fome a 20 milhões de brasileiros, sem assistência, por causa do desemprego, da inflação alta, comandada por seu desgoverno. Chora Bolsonaro porque chegou tua hora. Você já fez muita gente chorar. Chegou tua vez. E vai piorar, com o relatório da CPI na semana que vêm.

A limitação do mandatário, contudo, está em prever a jogada seguinte. Reativo, ele espera os acontecimentos para tomar alguma atitude. Não pode ser condenado pela restrição intelectual. O horizonte à vista é o pior possível e Bolsonaro não tem a clareza suficiente para entender. Ele vai experimentar uma solidão maior e mais miserável do que a atual. O presidente, ao fim do seu mandato, irá para a cadeia.

Há muita crueldade que ele fez e que foi revelada na CPI da Covid. Todos os elementos que ela já apurou apontam crimes em série do presidente que deixou morrer mais de 600 mil pessoas e nem sequer demonstrou empatia. Um desfecho rápido acalentaria as famílias das vítimas e poderia retirar o País do buraco que o Planalto cava cada vez mais fundo. Os senadores colocam para a opinião pública os fatos, basta uma mobilização certeira e o impeachment aconteceria. Mas não existe intenção real da queda do mandatário.

Enquanto não existem condições políticas de se resolver o problema, o Senado já montou com riqueza o processo que conduzirá Bolsonaro à prisão. São meses de depoimentos, fartas provas documentais, vídeos diversos com declaração do próprio presidente, conchavos com empresas, envolvimento da família. A única chance, e é gigantesca, do ex-capitão não experimentar uma grande solidão é que ele seja preso junto com os filhos, afinal os rebentos também são investigados em outros processos e têm os dias fora da cadeia contados.