Chineses evitam gastar, desaquecendo economia local

Chineses evitam gastar, desaquecendo economia local

"EmSegunda maior economia do mundo é impactada pela queda do consumo interno, e seu setor automotivo é particularmente vulnerável. Governo tenta vender otimismo a investidores em evento econômico no país."Mesmo se só andarmos, somos ainda mais rápidos que os outros", diz Sun, rindo maliciosamente. Ele usa a imagem da corrida e da caminhada para descrever a situação da economia chinesa em comparação com seus concorrentes. O empresário vinha se saindo bem vendendo imóveis na China. Mesmo assim, ele não quer ver seu nome completo publicado, porque seu negócio não está indo bem no momento. Há imóveis vazios por toda parte, e muitos apartamentos são caros demais.

E quanto ao futuro, o que vem a seguir? Sun dá de ombros, sugerindo que, no final, tudo vai acabar bem. O empreendedor, de cerca de 50 anos, espera algum sinal de inovação por parte do governo.

Já o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, está mais otimista do que nunca. Ele foi um dos participantes da conferência Summer Davos 2025 em Tianjin, organizada pelo Fórum Econômico Mundial, com sede na Suíça, e oficialmente chamada de Reunião Anual dos Novos Campeões. O evento reuniu cerca de 1.700 participantes de todo o mundo de 24 a 26 junho na cidade do norte da China.

O país asiático registrou um crescimento econômico de 5,5% no primeiro trimestre deste ano. O segundo trimestre também parece bom, de acordo com o primeiro-ministro chinês. Mas muitos chineses veem o otimismo do governo com ceticismo e preferem economizar em vez de gastar no momento.

Aonde foram os compradores?

Ao caminhar pelos grandes shopping centers de Tianjin, é impossível não notar as lojas quase vazias. A demanda por relógios, joias e bolsas de grife é baixa, e os clientes são poucos.

Nos elegantes showrooms dos fabricantes de automóveis chineses, a maioria dos vendedores parece entediada, enquanto olha para seus telefones celulares. O mais recente carro elétrico da montadora NIO está sozinho na loja. Sem nenhum cliente à vista, não parece que alguém queira fazer um test drive.

Mesmo em um salão de cabeleireiro próximo, pouca coisa acontece em um dia de semana normal.

Possíveis falências

A queda do consumo no país está atingindo as montadoras chinesas de forma particularmente dura. A concorrência no mercado é acirrada e, por causa disso, os preços estão em queda livre. Alguns veículos novos estão sendo vendidos a preços de carros usados.

"É bom para os consumidores, pois eles estão adquirindo carros a preços muito reduzidos e carros muito avançados e competitivos", diz Killian Aviles, diretor da região Ásia-Pacífico da Dekra, empresa alemã de testes e inspeção de veículos que ainda está fazendo bons negócios na China, com testes e consultoria para o setor automotivo.

"Ao mesmo tempo, as margens de lucro das empresas foram corroídas", reconhece Aviles. A consolidação parece inevitável, e Aviles não é o único que está convencido disso. "Somente os mais fortes e saudáveis sobreviverão", diz.

A China poderia tentar amenizar a situação, exportando mais veículos para a Europa, mas isso depende muito de os europeus permitirem essas importações e não aumentarem ainda mais as tarifas. No entanto, muitos especialistas não acreditam que a forte dependência da economia chinesa em relação às exportações seja um modelo viável para o futuro.

"A China realmente percebe que a era do crescimento liderado pelas exportações acabou e, é claro, ainda tem problemas por causa de excesso de investimentos e de produção", diz Diana Choyleva, pesquisadora sênior do Asia Society Policy Institute. Choyleva, que é especialista em economia e política da China, está convencida de que o consumo interno deve aumentar para manter a economia funcionando.

Foco mais forte ajudaria?

Ao mesmo tempo, a China quer se tornar líder do mercado global no maior número possível de setores. Tianjin abriga um dos portos mais movimentados do mundo e está se especializando em tecnologia, como a robótica, entre outros.

Uma dessas empresas é a fábrica de robôs Siasun, que usa o slogan publicitário "Melhorando o mundo através da robótica". A empresa vende seus robôs industriais em 40 países, e sua linha de produtos também inclui robôs usados no setor nuclear.

No entanto, seus modelos mais recentes não estão em exibição. Em vez disso, a empresa apenas exibe máquinas padrão, como as usadas pelo setor automotivo. Ainda assim, o potencial de crescimento é enorme, disse um gerente de produção da Siasun. "Em breve, os robôs estarão construindo os próprios robôs", comemora. "Onde estarão as pessoas, então?"

Nas margens do rio Hai, que atravessa Tianjin, muitos chineses sentam e fazem piqueniques, com muitas famílias com crianças, idosos e jovens também. Alguns dançam.

Ao mesmo tempo, muitos restaurantes da cidade estão meio vazios, assim como os shoppings e concessionárias. Talvez os restaurantes sejam muito caros. Ou talvez, neste momento, muitos consumidores chineses prefiram guardar seu dinheiro para um dia chuvoso. Seja qual for o caso, é provável que a comida caseira seja tão saborosa quanto qualquer coisa que eles possam comer em um restaurante.