Cópia em tamanho real do navio naufragado será nova atração da florescente indústria de parques temáticos do país. Críticos consideram o projeto insensível em relação às vítimas da tragédia. Em 1912, o Titanic, um navio de luxo rotulado como “o inafundável”, atingiu um iceberg e naufragou no Oceano Atlântico. Mais de 1,5 mil passageiros morreram no que deveria ser uma viagem inovadora e uma demonstração da engenharia moderna.

Desde então, a história do Titanic se tornou lendária, em parte graças ao blockbuster de Hollywood de 1997, estrelado por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet.

O investidor chinês Su Shaojun talvez seja um dos maiores fãs do navio – e do filme. Vários anos atrás, ele anunciou que financiaria uma réplica em tamanho real do navio malfadado, que em suas palavras manteria vivas as memórias do Titanic, conforme relatou a agência de notícias AFP. “Estamos construindo um museu para o Titanic”, disse Su na ocasião.

O navio de 260 metros de comprimento será a principal atração do parque temático Romandisea, localizado na província de Sichuan, na China, e que deverá abrir ao público em breve. Por cerca de 2 mil yuans (cerca de R$ 1.600) , hóspedes podem passar a noite no navio.

Su diz que um motor a vapor fará com que os hóspedes sintam que estão realmente no mar, embora o barco não tenha condições de navegar e tenha sido planejado para ficar atracado em um rio. Fora isso, porém, o navio de mentirinha copiou o Titanic original em tudo – das cabines às maçanetas das portas.

No mesmo espírito, os ônibus de turismo no parque de diversões irão tocar repetidamente a música tema do filme Titanic, My Heart Will Go On, de Celine Dion, informou a AFP.

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O filme de James Cameron de 1997 foi um sucesso estrondoso de bilheteria na China, assim como nos Estados Unidos e na Europa.

Na China, um novo documentário colocou ainda mais a história do Titanic nos holofotes nacionais. Lançado em 2021 pelo diretor Arthur Jones, The Six conta a história de seis viajantes chineses que sobreviveram à viagem inaugural. O longa foi lançado em 16 de abril – um dia após o 109º aniversário do naufrágio do navio.

O Titanic em tamanho real do Romandisea é uma das mais recentes adições à florescente indústria de parques de diversões da China, que é líder global na indústria de parques temáticos. Em 2018, o Relatório Pipeline de Parques Temáticos da China, elaborado pela empresa de consultoria AECOM, previu que os parques temáticos chineses receberiam 230 milhões de visitantes em 2020 e gerariam aproximadamente 12 bilhões de dólares em vendas de ingressos, um aumento de 367% em relação a 2010, de acordo com a Administração de Comércio Internacional.

Embora a pandemia tenha desacelerado os negócios, a previsão para o setor é de crescimento, já que os cidadãos chineses têm menos opções de viajar para fora do país.

Motivo de preocupação?

No passado, o projeto Titanic recebeu críticas dos que apontam como insensível transformar uma tragédia em que as pessoas perderam suas vidas em uma atração de parque de diversões. Em 2017, quando o investidor chinês compareceu a uma reunião da British Titanic Society (Sociedade Britânica do Titanic), alguns membros classificaram o projeto como de mau gosto.

O pai de Jean Legg, por exemplo, era um comissário de bordo no navio original. “Se ele soubesse que isso está sendo reproduzido, acho que se reviraria no túmulo”, disse Legg à BBC na época. “Eles estão usando o Titanic por causa da tragédia – isso é triste.”

Segundo a BBC, o plano original para a atração do parque temático incluía a simulação da colisão com um iceberg – ideia de Su. O intuito, porém, acabou sendo abandonado.

Ainda assim, David Scott-Beddard, da Sociedade Britânica, disse recentemente à DW que “Su e sua equipe garantiram aos nossos membros que essas preocupações seriam levadas em consideração e, até onde sabemos, elas foram resolvidas”.

“Será interessante ver o nível de autenticidade adotado quando o navio estiver pronto”, acrescentou. “Como muitos outros entusiastas do Titanic, esperamos que isso ajude a manter viva a história do navio e as memórias daqueles que morreram no desastre.”

Grande competição


Embora estivesse programado para ser concluído em 2019, o navio de Su ainda está em construção. O investidor espera que até 5 milhões de pessoas visitem o Titanic no parque temático, compensando seu custo exorbitante de 1 bilhão de yuans (cerca de 815 milhões de reais). “Espero que este navio ainda exista daqui a 100 ou 200 anos”, disse Su. A construção começou há seis anos.

Também houve quem expressasse preocupação de que o projeto pudesse ser abandonado, assim como a réplica de 2008 do porta-aviões americano USS Enterprise, que custou mais de 18 milhões de dólares e foi abandonada logo após sua inauguração, informou a AFP.

Há também outra réplica do Titanic em construção, esta financiada pelo bilionário australiano e polêmico magnata da mineração Clive Palmer. O Titanic II está em construção desde 2012, mas ao contrário de seu homólogo do Romandisea, pretende ser um navio em pleno funcionamento e capaz de fazer longas viagens. Espera-se que ele possa navegar a partir de 2022.


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