País asiático elevou taxas de importação sobre produtos americanos em retaliação, após ter seus bens taxados em 104% por Donald Trump. Expectativa de recessão abala bolsas de valores.A China reagiu nesta quarta-feira (09/04) às barreiras tarifárias impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e elevou a taxa de importação de produtos americanos a 84%, aprofundando a guerra comercial entre os dois países. A medida entra em vigor na quinta-feira.
Pequim também impôs restrições de importação a 18 empresas americanas, principalmente em setores relacionados à defesa, ampliando a lista de outras 60 companhias já sancionadas na disputa.
A medida foi tomada após Trump cumprir sua ameaça e elevar a 104% o total de tarifas sobre produtos chineses importados a partir desta quarta-feira, mesma data em que entram em vigor tarifas adicionais contra cerca de 60 países e a União Europeia.
"A escalada das tarifas dos EUA sobre a China é um erro em cima de um erro, que infringe seriamente os direitos e interesses legítimos da China e prejudica seriamente o sistema de comércio multilateral baseado em regras", disse o Ministério das Finanças da China. O país já havia indicado que pretendia "lutar até o fim" para defender seus direitos comerciais.
Já aUnião Europeia se diz aberta ao diálogo com a Casa Branca, mas também não descarta ações de retaliação. As autoridades do bloco votam nesta quarta-feira um primeiro lote de contramedidas, que deve aumentar a taxa de importação sobre uma série de produtos dos EUA.
No entanto, a proposta da UE foi discutida como resposta às tarifas impostas por Trump há cerca de um mês sobre importações de aço e alumínio, e não à recente taxa de 20% sobre as exportações da UE que passou a valer nesta quarta-feira.
Espera-se que os produtos americanos mais impactados sejam soja, vestuário, motocicletas, frutas, madeira e derivados de ferro, aves, aço e alumínio, que podem enfrentar tarifas alfandegárias de 25% para entrar nos países da UE. Outros itens estão sujeitos a uma taxa de 10%.
A lista completa de produtos, que ainda não foi oficialmente divulgada, tem 66 páginas. Conforme relatado pelo jornal alemão Frankfurter Allgemeine, algumas taxas devem entrar em vigor já na próxima semana, enquanto outras só serão impostas em meados de maio.
Economia americana em perigo
As tarifas punitivas de Trump abalaram uma ordem comercial global que existe há décadas e eliminaram trilhões de dólares do valor de mercado de centenas de empresas.
Desde que a medida foi anunciada, os principais índices de ações nos EUA têm sido pressionados. O S&P 500, que reúne 500 empresas de capital aberto americanas, sofreu sua maior perda desde sua criação na década de 1950.
Os títulos do Tesouro dos EUA também foram afetados pela turbulência do mercado e ampliaram suas perdas nesta quarta-feira, em um sinal de que os investidores estão se desfazendo até mesmo de seus ativos mais seguros. O dólar também teve um dia de queda e ficou mais fraco em relação a outras moedas.
Apesar o risco de umaestagnação global da economia, incluindo uma recessão prevista nos EUA, Trump diz não ter interesse em rever a estratégia até o momento. Em discurso no jantar do Comitê Nacional Republicano do Congresso em Washington na noite de terça-feira, o republicano afirmou que os países afetados estão ansiosos para negociar com ele.
"Estou lhes dizendo, esses países estão nos ligando. Eles estão loucos para fazer um acordo. 'Por favor, por favor, senhor, faça um acordo. Eu farei qualquer coisa, senhor'", disse ele, imitando em tom irônico os líderes estrangeiros.
Ações entram em retração em todo o mundo
A entrada em vigor do novo conjunto de tarifas impostas pelos EUA e o anúncio da sobretaxa contra a China voltou a derrubar ações em todo o mundo .
Taiwan liderou as perdas na Ásia, com o índice Taiex caindo 5,9%. No Japão, a bolsa de valores de Tóquio encolheu 3,9% e o índice Topix, que agrega um número mais amplo de empresas domésticas, ficou 3,4% mais baixo.
As ações de tecnologia foram as mais prejudicadas no país. Empresas como SoftBank Group, Advantest e Tokyo Electron viram o valor de suas ações reduzirem entre 6 a 8%.
Em Seul, as ações caíram a 1,74%, atingindo a maior baixa em 18 meses. Os mercados australianos também se juntaram à liquidação global, com os papéis de energia e recursos naturais liderando as quedas. O principal índice de referência do país, S&P/ASX 200, caiu 1,8%, e a carteira mais ampla All Ordinaries fechou em queda similar de 1,85%.
Na Nova Zelândia, a derrocada foi menor, de 0,71%. No país, o banco central cortou sua taxa básica de juros e sinalizou que vai reduzir os custos de empréstimos para evitar uma desacelaração imediata da economia.
Os índices europeus também abriram em forte queda nesta quarta-feira.
O índice DAX, da Alemanha opera com perdas de 2,59%. Em Paris, o CAC 40 caiu 2,1%, e o FTSE 100, do Reino Unido, cedeu 2%.
Um dos principais índices europeus que reúne 600 empresas de 17 países, o Stoxx 600, opera em 2,7% negativos.
China inverte perdas com medidas internas
Espera-se que oscilações para cima também ocorram, enquanto os investidores reagem às contramedidas impostas pelos países.
Com isso, a bolsa de valores de Hong Kong, subiu 0,7% nesta quarta-feira, enquanto o índice Shanghai Composite, da China, reverteu as perdas iniciais, ganhando 1,3%.
No país, as corretoras estatais se comprometeram a ajudar a estabilizar os preços das ações domésticas e dezenas de empresas listadas anunciaram planos de compra de ações.
gq/ra (AFP, Reuters, dpa, ots)