As autoridades chinesas anunciaram nesta terça-feira uma investigação sobre o Baidu após a morte de um estudante que, em busca de uma cura para o câncer, confiou nos resultados do motor de busca na internet, criticado por dar prioridade aos links patrocinados.

Wei Zexi, um estudante de 21 anos que sofria de um tipo raro de câncer, encontrou, por meio do Baidu, um tratamento experimental proposto por um hospital de Pequim.

Ele gastou mais de 200.000 yuanes (27.000 euros, 30.000 dólares) no tratamento – depois de pedir empréstimos a parentes e amigos -, mas não melhorou, explicou o próprio estudante em fevereiro no fórum Zhihu.com. Um mês depois o paciente faleceu.

Wei acusou o hospital de ter exagerado a eficácia do tratamento e o Baidu de ter classificado os resultados da busca em função da publicidade que os hospitais pagam à empresa. Também fez um apelo para que outros pacientes “não se deixem enganar”.

O caso provocou nos últimos dias uma comoção e uma onda de indignação nas redes sociais chinesas. No país é frequente que os enfermos em busca de informação utilizem quase exclusivamente o Baidu, motor de busca que domina o mercado na China, onde o Google não está autorizado.

A CAC – a autoridade chinesa que administra a internet e a segurança virtual – anunciou em um comunicado a abertura de uma investigação sobre o Baidu em conjunto com as autoridades da área de saúde e do comércio e indústria.

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A investigação pode resultar em normas mais rígidas e obrigar o Baidu a retirar parte de sua publicidade sobre saúde que, segundo a imprensa financeira chinesa, é uma das principais fontes de sua arrecadação publicitária.

A publicidade online para todos os setores representou no primeiro trimestre deste ano mais de 94% do faturamento do Baidu.

Esta é a segunda vez em poucos meses que acontece um caso deste tipo.

O Baidu já havia sido criticado no início de janeiro por ter divulgado, sem identificar como espaço publicitário, conteúdos patrocinados que promoviam tratamentos e hospitais nos fóruns sobre saúde. Ao mesmo tempo, suprimia os comentários negativos para os seus anunciantes.

A descoberta do sistema em um fórum de debate de hemofílicos provocou um escândalo e uma condenação geral.

Baidu, que garante identificar os conteúdos patrocinados, afirmou nesta terça-feira que felicita a abertura de uma investigação e prometeu “total colaboração”.

O grupo já teria demitido um de seus vice-presidentes da área de conteúdos patrocinados, segundo o portal de notícias Sina

“Temos uma vigilância especial no setor da saúde. Depuramos ativamente nossa base de anunciantes ao longo dos anos”, disse à AFP uma porta-voz do grupo

Mas, assim como os internautas, a imprensa estatal chinesa continua criticando o Baidu e a “falta de cuidados” com a credibilidade de seus anunciantes.

“O grupo deve receber um tratamento disciplinar pelas atividades inescrupulosas que realizou, estimulado por sua sede de lucro”, afirma um editorial do jornal Global Times.

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