03/01/2019 - 6:40
A China tornou realidade, nesta quinta-feira (3), o primeiro pouso já feito por um dispositivo espacial na face oculta da Lua, anunciou a imprensa estatal.
Depois de decolar da Terra em 8 de dezembro, o módulo de exploração Chang’e-4 aterrissou sem problemas às 10h26 hora de Pequim (00h26 em Brasília), informou a agência de notícias Xinhua.
O módulo enviou uma foto da superfície lunar para o satélite Queqiao, que orbita a Lua, afirmou a televisão pública CCTV.
“Chang’e-4” é uma homenagem à deusa da Lua na mitologia chinesa.
“Conseguimos um resultado extremamente preciso. O pouso na Lua foi suave e em um lugar ideal, no centro da zona selecionada”, declarou o engenheiro da Administração Espacial Nacional da China (CNSA), Sun Zezhou, chefe da missão Chang’e-4.
Diferentemente da face da Lua mais próxima da Terra, que está sempre voltada para o nosso planeta, nenhuma sonda, nem qualquer módulo de exploração haviam pousado no outro lado da superfície lunar.
A face oculta da Lua também recebe o nome de “lado escuro”, embora seja inapropriado, já que a luz solar banha toda superfície do satélite da Terra.
Esse lado é montanhoso e acidentado, cheio de crateras, enquanto o lado visível tem várias superfícies planas para pouso.
A primeira a conseguir captar imagens da face oculta da Lua foi a União Soviética, em 7 de outubro de 1959, com sua sonda automática Lua 3.
Há anos a China prepara esta operação, especialmente difícil do ponto de vista tecnológico.
Um dos maiores desafios é conseguir se comunicar com o robô lunar. Como a face escura da Lua está orientada no sentido oposto à Terra, não há uma “linha de visão” direta para transmitir sinais.
Assim, a China lançou em maio o satélite Queqiao, posicionado na órbita lunar, para transmitir ordens e dados trocados entre a Terra e o módulo.
Durante a noite lunar, que dura 14 dias terrestres, as temperaturas caem para -173ºC e, durante o dia lunar, também equivalente a 14 dias terrestres, podem alcançar os 127ºC.
Para ficar ainda mais difícil, o Chang’e-4 foi enviado para uma região do polo sul da Lua, a bacia Aitken, cujo terreno é particularmente complexo e com elevações.
O Chang’e-4 fará estudos sobre as radiofrequências baixas, o cultivo de tomates em outros planetas e os recursos minerais, entre outros pontos.
“As informações coletadas também servirão para a futura base lunar que Pequim quer construir e para as atividades científicas na face oculta da Lua”, disse à AFP Chen Lan, analista para o GoTaikonauts.com, um site especializado no programa espacial chinês.
“Também servirá para a futura missão da China em Marte, prevista para 2020. Em 2021, querem que aterrisse um robô similar ao do Chang’e 4. É uma boa oportunidade para testar essa tecnologia”, completou.
– ‘Coelho de Jade’ –
Esta é a segunda vez que a China envia um veículo para explorar a superfície lunar. O primeiro foi o Yutu (“Coelho de Jade”), em 2013. Ele permaneceu ativo por 31 meses.
No ano que vem, a China pretende lançar um Chang’e-5 para extrair amostras e trazê-las para a Terra.
A China investe milhões em seu programa espacial, dirigido pelo Exército. Colocou satélites em órbita para desenvolvimentos internos (observação da Terra, telecomunicações, ou o sistema de geolocalização Beidou), ou para outros países. Também espera enviar um robô a Marte, e humanos, à Lua.
E, em novembro, a China apresentou uma réplica de sua primeira grande estação espacial, Tiangong (“Palácio Celeste”). Os chineses planejam lançá-la por volta de 2022, para substituir a Estação Espacial Internacional (ISS).
Está previsto que a ISS, que associa Estados Unidos, Rússia, Europa, Japão e Canadá, deixe de funcionar em 2024.
A China também pretende desenvolver uma nave reutilizável para 2021 e um foguete superpotente capaz de distribuir cargas mais pesadas do que as que a Nasa (a agência espacial americana) e a empresa privada SpaceX são capazes de administrar e, também, dispor de uma base lunar.
“Estamos criando uma potência do Espaço. Nesse processo, podemos dizer que o acontecimento de hoje é particularmente simbólico”, declarou o engenheiro da CNSA e chefe do programa lunar chinês, Wu Weiren.
Pequim ainda tem, contudo, um longo caminho a percorrer para alcançar os Estados Unidos no Espaço, comenta Shen Dingli, professor de Relações Internacionais, falando de Xangai.
“O americano Neil Armstrong pisou na Lua há mais de 50 anos. Até agora, nenhum chinês conseguiu isso”, lembrou.