A China criticou, nesta quinta-feira (27), a “história sombria” dos serviços de inteligência dos Estados Unidos, depois que o presidente Joe Biden ordenou uma investigação sobre as origens da covid-19.

Washington está revisando sua posição diplomática com Pequim em questões como o comércio, a tecnologia ou os direitos humanos, enquanto intensifica os esforços para criar com os sócios ocidentais uma frente diplomática contra a suposta agressão chinesa.

Na quarta-feira, o presidente Biden reabriu as feridas entre as duas potências ao ordenar que as agências de inteligência americanas informem em um prazo de 90 dias se a covid-19 surgiu na China de uma fonte animal ou por um acidente de laboratório.

A teoria do vazamento de um laboratório, inicialmente citada pelo antecessor de Biden, Donald Trump, e depois descartada como “altamente improvável” por uma missão da Organização Mundial da Saúde (OMS) que visitou a China com muito atraso, ressurgiu nos últimos dias, estimulada por Washington.

A China é muito sensível às acusações de que poderia ter feito mais para deter a propagação de uma pandemia que provocou mais de 3,5 milhões de mortes e paralisou economias em todo o mundo desde que foi detectada na cidade de Wuhan no fim de 2019.

Pequim rejeita a teoria de que o vírus pode ter surgido em um laboratório de virologia em Wuhan e acusa Washington de vender “conspirações” e politizar a pandemia.

“Os motivos e propósitos do governo Biden são claros”, afirmou nesta quinta-feira Zhao Lijian, porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, que rejeitou a necessidade de uma nova investigação sobre a pandemia.

“O mundo conhece há muito tempo a história sombria dos serviços de inteligência americanos”, disse, em referência às alegações infundadas dos Estados Unidos sobre armas de destruição em massa que justificaram sua invasão do Iraque.

Voltar à teoria do vazamento de um laboratório “é uma falta de respeito à ciência (…) e também um obstáculo na luta mundial contra a pandemia”, afirmou Zhao.

Apesar das afirmações da China, a ideia de que o vírus saiu de um laboratório de Wuhan está ganhando cada vez mais adeptos no Estados Unidos.

Ao citar um relatório do serviço de inteligência americano, The Wall Street Journal informou no domingo que três pessoas do Instituto de Virologia de Wuhan foram hospitalizadas com uma doença sazonal em novembro de 2019, um mês antes de Pequim revelar a existência de um misterioso foco de pneumonia viral.

A hipótese da origem natural — respaldada como a mais provável pela equipe de especialistas da OMS que visitou a China — afirma que o vírus surgiu entre morcegos e depois passou aos humanos, provavelmente através de uma espécie intermediária.

Esta teoria foi amplamente aceita no início da pandemia, mas com o passar do tempo os cientistas não encontraram um vírus nos morcegos ou em outro animal que corresponda com a assinatura genética do SARS-CoV-2.

– Negociações comerciais –

A China quer deixar de lado a busca pela origem da pandemia, estimulada por países como Austrália e Reino Unido, e deseja se concentrar na recuperação econômica, depois de controlar o vírus dentro de suas fronteiras.

Neste contexto, o ministério do Comércio celebrou nesta quinta-feira as conversas com Washington que são parte de um acordo para tentar acabar com a guerra comercial.

Os dois países assinaram o chamado acordo de “fase 1”, em janeiro de 2020, com o qual Pequim se comprometeu a aumentar suas compras de produtos e serviços americanos em pelo menos 200 bilhões de dólares durante 2020 e 2021.

Desde a detecção do vírus na China, a pandemia deixou mais de 3,5 milhões de mortos no mundo.

A situação é desigual, de acordo com as regiões.

Na América Latina, que registra mais de um milhão de mortos e 32,3 milhões de contágios, o Uruguai superou na quarta-feira a marca de 4.000 mortes por covid-19 e a Argentina, que enfrenta o pior momento da pandemia com mais de 75.500 vítimas fatais, recebeu mais de um milhão de doses das vacinas da AstraZeneca e Sputnik V.

Na Austrália, as autoridades anunciaram nesta quinta-feira que cinco milhões de habitantes de Melbourne, a segunda maior cidade do país, e sua região entrarão em confinamento para conter um foco de covid-19.

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