China batalha para se livrar de pressão desinflacionária

Os preços ao consumidor na China caíram em fevereiro, um sinal de pressão desinflacionária persistente, encerrando um ano de fraco avanço dos preços e colocando em evidência os desafios que as autoridades locais enfrentam para estimular a demanda interna ao mesmo tempo em que as tensões comerciais se intensificam.

O Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) caiu 0,7% em fevereiro em relação ao mesmo mês do ano passado, invertendo o aumento de 0,5% visto em janeiro, informou o Departamento Nacional de Estatísticas neste domingo, 9 (noite de sábado no Brasil). Pesquisa do Wall Street Journal com economistas estimava uma queda de 0,5%.

Economistas afirmam que a queda nos preços se deve em parte a uma base de comparação alta, pois em 2024 o feriado de uma semana do Ano Novo Lunar caiu inteiramente em fevereiro.

Ainda assim, eles alertam que o recuo indica que, mesmo após uma recente mudança nos estímulos econômicos, as autoridades têm muito a fazer para convencer as cautelosas famílias chinesas a abrirem suas carteiras, uma tarefa que, segundo economistas, é essencial para manter funcionando uma economia afetada por tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

As exportações, importante motor de crescimento para a economia de US$ 18 trilhões, já mostram sinais de oscilação. Os embarques da China cresceram apenas 2,3% no primeiro bimestre, em comparação com o mesmo período do ano passado.

“Isso reflete o retorno da antecipação de exportações e os aumentos tarifários mais rápidos e amplos de Trump”, disseram economistas do banco Barclays em nota.

Com as tarifas dos EUA entrando em vigor em fevereiro e março, muitos analistas preveem que o impacto será sentido com mais força nos próximos meses e Pequim pode ser forçada fazer uma nova rodada de estímulos.

Em uma medida vista como um reconhecimento tácito das autoridades sobre a persistente pressão desinflacionária, Pequim reduziu na quarta-feira, 5, sua meta de inflação ao consumidor para cerca de 2% em 2025, o menor nível em mais de duas décadas e um distanciamento da meta de longo prazo de 3%, que na prática serviu como um teto flexível em vez de uma meta rígida em anos anteriores. O CPI anual ficou em 0,2% nos dois últimos anos.

Ao explicar o pensamento das autoridades econômicas a jornalistas recentemente, Chen Changsheng, um alto funcionário do governo chinês, destacou que preços continuamente baixos elevariam os encargos da dívida e suprimiriam o investimento corporativo. Seus comentários ecoaram as preocupações de economistas de que a China poderia cair em uma armadilha econômica semelhante à experiência do Japão na década de 1990, quando um colapso de ativos levou a anos de estagnação.

Apesar de uma meta mais atingível, economistas dizem que Pequim provavelmente ainda terá dificuldades para atingi-la, dado que uma crise imobiliária que dura anos ainda não está no fim.

As medidas iniciais que Pequim revelou para impulsionar o consumo decepcionaram alguns economistas que têm pedido medidas políticas mais fortes, incluindo gastos fiscais intensificados em programas de bem-estar social, como pensões e assistência médica.

Cálculos baseados em metas oficiais de déficit indicam uma perspectiva ainda mais sombria para os preços, sinalizando que as autoridades não estão contando com uma recuperação substancial dos preços este ano. A China agora está a caminho da mais longa sequência de quedas de preços desde a década de 1960. Fonte: Dow Jones Newswires