04/09/2024 - 11:03
Uma multidão foi para a frente da casa da atleta de salto ornamental chinesa de 17 anos, Quan Hongchan, após sua conquista de duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Paris. Enquanto isso, a ginasta Zhang Boheng teve que se esconder nos banheiros do aeroporto de Pequim para escapar de uma multidão de fãs entusiasmados.
Estes são apenas dois exemplos do que a mídia estatal chama de “fãs tóxicos”. As autoridades chinesas já prometeram fazer algo a respeito deste assédio.
Existem casos de seguidores dos grandes atletas chineses que foram mais além: fãs obcecados com a vida pessoal dos atletas, intimidação online de atletas rivais e acusações de corrupções a árbitros são alguns desses comportamentos.
Os especialistas dizem que estes tipos de condutas são parecidas com as que ocorriam com os famosos dedicados ao entretenimento antes do Partido Comunista, atual governante da China, tomar medidas para controlar o fervor fanático.
Quan Hongchan, a atelta de salto ornamental, foi fotografada chorando, nesta semana, após ser perseguida por fãs em um hotel durante uma viagem a Macau da equipe olímpica chinesa.
Jian Xu, especialista no estudo de celebridades chinesas da Universidade Deakin, disse que o aumento da presença de estrelas chinesas do esporte na televisão e nas redes sociais foi o que os converteu em celebridades.
Jian chamou este efeito de comercialização e “a conversão em produtos de entretenimento” dos atletas chineses.
Há duas faces na moeda: enquanto alguns atletas foram elevados a heróis nacionais, outros sofreram assédio de trolls nas redes sociais.
O ginasta Su Weide, de 24 anos, foi assediado na internet depois que caiu duas vezes na barra horizontal em sua performance nos Jogos.
“Ele sozinho arrastou toda a equipe para baixo”, diz um usuário da rede social chinesa Weibo (semelhante ao X), onde outros usuários o acusam de ter conquistado seu lugar na equipe por meio de “contatos” em vez de talento.
Na final do tênis de mesa feminino de Paris, duas atletas chinesas, Chen Meng e Sun Yingsha, competiram. Ainda que Sun tenha recebido apoio nas arquibancadas e na internet, Chen foi vaiada e assediada nas redes.
“O país inteiro queria a vitória de Sun Yingsha, qual é o seu senso de justiça?”, foi um dos comentários no Weibo.
Dias depois, o Ministério Público de Segurança da China anunciou a prisão de um fã violento na internet.
Desde o ocorrido, ao menos cinco pessoas foram detidas ou sancionadas por fazerem parte de grupos fanáticos e abusivos de atletas ou treinadores chineses.
Pan Zhanle, nadador de 20 anos que ganhou dois ouros nos Jogos Olímpicos de Paris, onde bateu o récorde mundial dos 100m livres, dissolveu seu fã-clube no Weibo semanas após sua vitória.
Estes fã-clubes na internet são conhecidos por serem muitos leais a seus ídolos, promover e defender suas estrelas e difamar seus adversários.
Segundo o estudioso Jian, muitos jovens se tornaram fãs de esportes depois que as autoridades chinesas reforçaram a vigilância de fã-clubes de celebridades de entretenimento em 2021.
As autoridades demonstraram preocupação sobre a influência dos fã-clubes nos jovens e em seus comportamentos.
Os seguidores foram ao mundo do esporte por considerar “um lugar relativamente seguro devido à importância das estrelas do esporte para o país, pois elas têm um status elevado e são vistas como modelos”, disse o especialista à AFP.
Os fãs “podem expressar seu orgulho nacional e patriotismo através do apoio a estes ídolos do esporte que representam a China”, acrescentou.
Atualmente as autoridades parecem julgar esta conduta de orgulho nacional como excessiva.
Na semana passada, a Administração Geral Chinesa do Esporte (GAS) condenou a “distorção da cultura de fãs” por “danificar a reputação da indústria do esporte”.
Gao Zhidan, diretor da GAS, também alertou aos atletas para que tenham um comportamento exemplar ao propagar “uma visão correta da vida e uma opinião racional sobre a fama”.
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