A China acusou aos Estados Unidos nesta quinta-feira (14) de operar com a “lógica de um criminoso” após a aprovação de um projeto de lei para proibir o aplicativo de vídeos TikTok, que o ex-secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin disse que quer comprar.

O TikTok, aplicativo de compartilhamento de vídeos curtos, tem enorme popularidade no mundo, mas o fato de pertencer ao gigante tecnológico chinês ByteDance e sua suposta subordinação ao Partido Comunista da China geram preocupações nos países ocidentais.

A Câmara de Representantes dos Estados Unidos aprovou na quarta-feira por ampla maioria um projeto de lei que obriga o Tiktok a desvincular-se da ByteDance. Caso não siga a determinação, o aplicativo pode ser proibido no país.

Steve Mnuchin, ex-secretário do Tesouro no governo do republicano Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira que prepara um plano de compra.

“Acho que a legislação deve ser aprovada e deve ser vendida”, disse Mnuchin à CNBC, garantindo que o Tiktok é “um grande negócio e (…) deveria ser propriedade de empresas americanas”.

A iniciativa ainda precisa passar pelo Senado, onde deve enfrentar mais resistência que na Câmara de Representantes, pois alguns congressistas questionam uma medida que consideram muito drástica.

“Os Estados Unidos deveriam respeitar os princípios da economia de mercado e concorrência justa, (e) parar de reprimir injustamente as empresas estrangeiras”, declarou He Yadong, porta-voz do Ministério do Comércio da China.

Washington também deveria “proporcionar um ambiente aberto, equitativo, justo e não discriminatório para que as empresas estrangeiras invistam e atuem nos Estados Unidos”, completou He.

“A China tomará todas as medidas necessárias para salvaguardar de forma efetiva seus legítimos direitos e interesses”, afirmou o porta-voz.

Já o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, afirmou que “o projeto de lei aprovado coloca os Estados Unidos no lado oposto dos princípios da livre concorrência e das regras internacionais de economia e comércio”.

“Se as chamadas razões de segurança nacional podem ser usadas para suprimir arbitrariamente empresas excelentes de outros países, então não há equidade e justiça”, disse Wang.

“Quando alguém vê algo de bom que outra pessoa tem e tenta tomar para si, isso é uma lógica de um criminoso”, acrescentou Wang.

Antes da votação, a China afirmou que a proibição da rede social nos Estados Unidos seria “um tiro no pé”.

Há anos a China bloqueia redes sociais ocidentais como o Facebook e o X, e mantém uma forte censura na Internet.

-Incógnita sobre voto do Senado –

Os deputados aprovaram o projeto por 352 votos a favor e 65 contra, uma rara demonstração de unidade em uma câmara muito dividida.

A Casa Branca antecipou que o presidente Joe Biden promulgará a lei, conhecida oficialmente como ‘Lei de Proteção dos Americanos contra Aplicativos Controlados por Adversários Estrangeiros’, após a aprovação nas duas Casas do Congresso.

Não está claro, porém, como o Senado votará, onde alguns parlamentares estão cautelosos.

O TikTok sempre negou estar sob o controle do Partido Comunista. Seu CEO, Shou Zi Chew, até pediu aos usuários que se manifestassem contra a votação e vários desenvolvedores do TikTok consultados pela AFP manifestaram sua oposição à lei.

O aplicativo está há muito tempo no centro das tensões entre a China e os Estados Unidos, que enfrentam conflitos por questões tecnológicas, comerciais e de direitos humanos.

Os reguladores europeus também estão preocupados e a Comissão Europeia questionou o TikTok e outras plataformas como Facebook, Google e X sobre sua gestão dos riscos relacionados à utilização de inteligência artificial e a divulgação de informações falsas, fator que é especialmente preocupante face aos processos eleitorais.

Também nesta quinta-feira, a autoridade da concorrência italiana multou o TikTok em 10 milhões de euros (quase 11 milhões de dólares ou 54 milhões de reais) por não proteger suficientemente os menores.

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