PEQUIM/SÃO PAULO (Reuters) – As autoridades alfandegárias da China disseram nesta terça-feira que aceitarão pedidos de importação de carne bovina brasileira que tenha recebido certificado sanitário antes de 4 de setembro, potencialmente permitindo que os carregamentos retidos nos portos chineses finalmente sejam liberados na alfândega.

O Brasil suspendeu processos para exportações de carne bovina para a China em 4 de setembro após detectar dois casos atípicos de doença da vaca louca, mas o produto que já estava nos portos continuou sendo exportado, com a maior parte não conseguindo passar pela alfândega na chegada à China.

A consultoria Agrifatto estima que o volume parado nos portos chineses é de cerca de 100 mil toneladas, praticamente o total exportado aos chineses em setembro, quando os embarques brasileiros atingiram um recorde de cerca de 212 mil toneladas.

Reportagem da Reuters em meados de setembro havia apontado riscos de se embarcar o produto após o embargo, ainda que o setor contasse com a liberação da carne certificada antes da suspensão, o que acabou demorando para acontecer.

Os preços da arroba bovina reagiram positivamente nesta terça-feira, com o contrato janeiro na B3 chegando a tocar 330 reais, em dia marcado também pela informação de que mais frigoríficos brasileiros poderão exportar para a Rússia. No mercado físico, a variação no mês é de mais de 20%, segundo o indicador Boi Gordo Cepea/B3.

Na avaliação da diretora da Agrifatto, Lygia Pimentel, é preciso cautela com a China, contudo.

“Como a China não reverteu a suspensão e só foi liberado o que eu foi certificado até 4 de setembro, há suspeita que eles refizeram estoques de carne e conseguem virar o ano talvez”, disse ela, ao responder pergunta sobre as perspectivas da queda do embargo.

Para a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, a liberação da carne certificada antes do embargo representa um primeiro passo rumo à retomada das exportações regulares para a China.

“Não existe motivo de preocupação nem para os nossos consumidores nem para os consumidores externos. Essa liberação alivia os nossos exportadores que tinham muitos desses contêineres no mar ou em portos, que serão então liberados para entrarem na China”, afirmou a ministra.

“Agora, temos um próximo passo para liberar a suspensão da carne brasileira daqui para frente. Estamos em andamento neste processo e espero que isso aconteça ainda no próximo mês”, frisou ela.

Ela disse que Brasil já encaminhou todos os documentos solicitados pelas autoridades chinesas, que estão analisando as informações enviadas.

Os casos de mal da vaca louca que geraram o embargo foram considerados “atípicos” por serem de um tipo espontâneo, e não por transmissão no rebanho.

De acordo com a Organização Internacional de Saúde Animal (OIE, na sigla em inglês), casos “atípicos” não oferecem riscos à saúde humana e animal, e são em geral detectados em bovinos mais velhos.

A alfândega chinesa atualizou seu site nesta terça-feira para informar que agora está aceitando pedidos de importação de carne bovina certificada antes da suspensão.

Não ficou claro quanto tempo esses procedimentos levariam, ou a quantidade de produto presa no limbo desde a suspensão.

O Brasil é o principal fornecedor de carne bovina da China, atendendo a cerca de 40% de suas importações, e os compradores esperavam inicialmente que o comércio fosse retomado em algumas semanas.

Desde que os casos em bovinos foram anunciados, o Brasil também notificou dois casos de distúrbio neurodegenerativo em pessoas, embora autoridades tenham dito que eles não estavam relacionados ao consumo de carne bovina.

(Reportagem de Dominique Patton em Pequim e Roberto Samora em São Paulo)

tagreuters.com2021binary_LYNXMPEHAM0DX-BASEIMAGE