25/02/2018 - 11:12
O Partido Comunista Chinês (PCC) anunciou neste domingo a intenção de acabar com o limite de dois mandatos presidenciais inscrito na Constituição, o que abre o caminho para que o presidente Xi Jinping permaneça no poder por tempo indeterminado.
O comitê central do partido, que atua como uma espécie de Parlamento da instituição, quer eliminar da Constituição chinesa a menção de que um presidente “não pode exercer mais de dois mandatos consecutivos” de cinco anos.
Xi é presidente desde 2013 e, em tese, deveria abandonar o poder em 2023.
“Acredito que vai se tornar imperador vitalício e o Mao Tsé-Tung do século XXI”, comentou o cientista político Willy Lam, da Universidade Chinesa de Hong Kong, em referência ao todo-poderoso fundador do regime comunista (1949).
“Se a saúde permitir, ele deseja permanecer no poder por 20 anos, ou seja, até 2032, como secretário-geral do partido e até 2033 como presidente”, completou Lam, com base em fontes próximas ao governo de Pequim.
Em 2033, Xi Jinping terá 80 anos.
O comitê central do PCC também propôs incluir “o pensamento de Xi Jinping” na Constituição do país, informou a agência oficial Xinhua.
As propostas serão submetidas aos parlamentares chineses durante a sessão anual da Assembleia Nacional Popular (ANP), que começa em 5 de março.
Em seu afã por permanecer indefinidamente no poder, Xi Jinping “se putiniza, menos democrático” que o presidente russo Vladimir Putin, observou o sinólogo Jean-Pierre Cabestan, da Universidade Batista de Hong Kong.
De acordo com Cabestan, depois de ter colocado nos últimos cinco anos os seus aliados mais fiéis nos postos mais elevados do regime, Xi deveria obter o posto de presidente da ANP para um colaborador, Li Zhanshu, sua “eminência parda”, que no ano passado se tornou o número 3 do governo, atrás do primeiro-ministro Li Keqiang.
– Mao, o ‘retorno’ –
“Assim, ele garante que a reforma constitucional será aprovada sem resistências”, destacou o sinólogo, que apontou a existência de uma oposição interna ao regime.
Em outubro do ano passado, durante o XIX congresso quinquenal do PCC, Xi Jinping conseguiu a inclusão no estatuto do partido de seu “pensamento sobre o socialismo de estilo chinês da nova era”, um honra que até agora só havia sido recebida em vida por Mao Tsé-Tung, fundador do regime comunista em 1949.
Desde que assumiu a liderança do partido, em 2012, Xi Jinping concentra todos os poderes como nenhum outro governante chinês nos últimos 25 anos.
Também colocou em prática uma intensa luta contra a corrupção, o que provocou punições a mais de um milhão de pessoas. Alguns, no entanto, consideram a campanha uma maneira de livrar-se de seus inimigos.
Sua presidência se caracteriza ainda pelo culto à personalidade, com a onipresença nos meios de comunicação, assim como o reforço da repressão aos defensores da democracia e dos direitos humanos.
“Assistimos ao retorno da era Mao Tsé-Tung, quando uma só pessoa decidia por centenas de milhões”, comentou Willy Lam.
“Ele não tem contrapoderes. Isto é muito perigoso, pois Xi Jinping poderia cometer erros porque ninguém se atreverá a enfrentá-lo”.