A Justiça francesa condenou nesta quinta-feira (21) o chileno Nicolás Zepeda a 28 anos de prisão pelo assassinato premeditado de sua ex-namorada japonesa Narumi Kurosaki em 2016.

“Você foi considerado culpado de assassinato premeditado” e condenado a 28 anos de prisão, disse o presidente do Tribunal de Apelações de Vesoul, François Arnaud, ao fim de cinco horas de deliberações dos doze membros do júri.

O acusado ouviu a leitura da sentença impassível, em pé diante do banco dos réus, antes de cair no choro.

Seu pai, Humberto Zepeda, a quem uma tradutora comunicou a sentença ao chegar atrasado com a esposa Ana Luz Contreras, tentou consolá-lo acariciando-lhe a cabeça.

“Todo o mundo foi testemunha que hoje uma pessoa inocente foi condenada na França”, disse à AFP o pai, para quem os promotores não apresentaram “provas concretas e diretas” da implicação de seu filho.

Durante o julgamento, negou os fatos: “Não sou um assassino! Não matei Narumi!”, reiterou nesta quinta-feira.

O tribunal manteve a pena imposta em primeira instância em 2022 e acrescentou a proibição de permanecer na França, após o cumprimento da pena.

O chileno também deverá pagar uma indenização de 220.000 euros (1,17 milhão de reais na cotação atual) à família de Kurosaki e 5.000 euros (26 mil de reais) a Arthur Del Piccolo, namorado da jovem à época dos fatos.

“Cada dia tem sido uma provação para eles e, infelizmente, Nicolás Zepeda vai partir com seus segredos”, lamentou a advogada da família, Sylvie Galley.

– Recurso possível –

O julgamento, iniciado em 4 de dezembro, despertou grande agitação em Vesoul, cidade de 15.000 habitantes. Dezenas de pessoas fizeram fila na chuva, neblina ou sob temperaturas abaixo de zero para garantir um lugar nas audiências.

Após quase três semanas de julgamento, a acusação conseguiu impor sua tese: Nicolas Zepeda teria cruzado o Atlântico no final de 2016, dois meses após o fim do relacionamento com a jovem de 21 anos, sem avisá-la, com o objetivo de reconquistá-la, caso contrário, a mataria.

Após espioná-la durante vários dias na residência universitária de Besançon (leste), foram jantar juntos em 4 de dezembro de 2016. Em seguida, a matou na madrugada do dia 5 em seu quarto.

“Ele a asfixiou ou a estrangulou”, disse o promotor Étienne Manteaux, para quem os “gritos de mulher” ouvidos na madrugada são a “prova central” de que morreu. Um dia depois, teria se desfeito do corpo em uma zona florestal perto do rio Doubs.

A defesa tentou em vão, em suas alegações finais, plantar a “dúvida” sobre a morte, apontando para um homicídio acidental. E se Narumi morreu ao bater a cabeça no equipamento de calefação durante uma briga?, lançou Renaud Portejoie.

Para Manteaux, Zepeda não aceitou que sua ex-namorada tenha ido estudar na França, escapando de seu “controle”, terminado com ele e iniciado um novo relacionamento com Arthur del Piccolo. “Foi um feminicídio”, sentenciou nesta quinta-feira.

Para a acusação, ele também se apossou do celular de sua ex-namorada e se fez passar por ela ao enviar mensagens a pessoas próximas, quando já estava morta, fazendo com que as buscas pela jovem fossem adiadas até seu retorno ao Chile, em 13 de dezembro, de donde foi extraditado em 2020.

A defesa tem agora cinco dias para recorrer da condenação à Corte de Cassação Francesa, que examinará simplesmente se o processo tramitou corretamente. Se concluir que não, poderá determinar um novo julgamento.

“O aspecto da premeditação é muito frágil (…) É o motivo do recurso em cassação”, explicou outro advogado da defesa, Sylvain Cormier, após um dos julgamentos “mais difíceis” de sua carreira.

“Acredito que o caso Zepeda não terminou”, advertiu Portejoie.

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