Um total de 182 pessoas sofreram danos oculares por balas de chumbo disparadas pela Policía durante os protestos em massa que começaram no Chile há mais de três semanas. Um deles, um jovem estudante que perdeu parcialmente a visão, levou neste domingo ao protesto de organismos de saúde e de direitos humanos.

Gustavo Gatica, estudante de psicologia de 21 anos, protestava na sexta-feira na praça Itália – epicentro dos protestos em Santiago – quando foi atingido por duas de balas de chumbo nos olhos disparadas por agentes antidistúrbios.

O laudo médico foi trágico: “Perda da visão no olho esquerdo e à espera da evolução do olho direito”.

Segundo testemunhas, Gustavo fotografava a manifestação, da qual participavam cerca de 75.000 pessoas e não se envolveu em nenhum dos tumultos ocorridos próximo à praça Itália, onde foi incendiado um casarão antigo que é sede de uma universidade e houve a depredação da embaixada da Argentina.

A polícia usou balas de chumbo, de borracha, gases lacrimogêneos e carros com jatos d’água para dispersar os manifestantes.

Sem correr risco de morte, ele foi operado durante o final de semana para evitar que perdesse a visão do outro olho. Familiares, colegas de estudo e dezenas de pessoas que chegaram espontaneamente realizaram um protesto no sábado perto da clínica Santa María, onde ele foi atendido. A polícia reprimiu a concentração com gases lacrimogêneos a poucos metros do centro médico.

Assim como Gatica, 182 personas sofreram “ferimentos oculares” durante os violentos protestos que acontecem desde 18 de outubro, segundo um último relatório do Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH). A crise social, considerada a pior dos últimos 30 anos no Chile, deixou pelo menos 20 mortos e cerca de 2.000 feridos.

Para o Colégio Médico “são mais de 200 pessoas que nesses dias perderam um dos olhos. Isso é muito grave”, declarou Enrique Morales, presidente do departamento de direitos humanos, à rádio Cooperativa.

– Basta de balas de chumbo e de borracha –

O INDH abriu um processo judicial “por lesões graves e gravíssimas contra Carabineros (como é chamada a Polícia chilena) pelo impacto que provocou ao estudante de psicologia, Gustavo Gatica Villarroel, o disparo de balas de chumbo em ambos os globos oculares”.

O governo alega que o uso de armamento não letal está dentro dos protocolos da Polícia para controlar distúrbios, mas o ministro do Interior, Gonzalo Blumel, admitiu que houve alguns erros por parte dos policiais.

“A verdade é que são horrores, não erros. É dever da autoridade suspender o uso das balas de chumbo”, diz Morales.

“O dano que balas de chumbo e de borracha estão provocando não condiz com o protocolo progressivo do uso da força”, afirma o INDH.