José Antonio Kast foi eleito presidente do Chile neste domingo, após a conclusão do segundo turno das eleições. A apuração oficial do Serviço Eleitoral indicou vantagem consolidada do candidato do Partido Republicano sobre Jeannette Jara, do Partido Comunista, quando a maior parte das urnas já havia sido contabilizada. Mais de 15 milhões de pessoas estavam aptas a votar no país.
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Ainda durante a divulgação dos resultados, Jara reconheceu o resultado e informou que entrou em contato com Kast para desejar êxito na condução do governo.
“A democracia falou forte e claro. Acabo de falar com o presidente eleito José Antonio Kast para desejar-lhe êxito pelo bem do Chile”, escreveu a comunista em suas redes sociais.
A mensagem foi publicada em suas redes sociais poucas horas depois de confirmada a tendência irreversível do pleito. Com isso, o processo eleitoral chegou ao fim sem questionamentos formais.
A eleição marcou uma mudança em relação ao primeiro turno. Na etapa inicial da disputa, Jara havia ficado à frente, enquanto Kast apareceu em segundo lugar.
No intervalo entre as duas votações, partidos e lideranças alinhados à direita declararam apoio ao nome do Partido Republicano, o que ampliou sua base eleitoral no confronto direto.
O atual presidente Gabriel Boric, impedido de concorrer novamente pela Constituição chilena, encerrará seu mandato após quatro anos no cargo. A cerimônia de posse do presidente eleito está prevista para 11 de março de 2026, quando Kast receberá a faixa presidencial no Palácio de La Moneda.
Trajetória política e formação
Nascido em Santiago, em janeiro de 1966, José Antonio Kast é advogado formado pela Universidade Católica do Chile. Ele é o caçula de uma família com dez filhos. Seu pai, Michael Kast Schindele, foi militar alemão e deixou a Europa após a Segunda Guerra Mundial. Um de seus irmãos, Miguel Kast, ocupou cargos no governo e no Banco Central durante o regime militar chileno.
A participação política de Kast começou ainda nos anos 1980. Em 1988, ele atuou na campanha que defendia a permanência de Augusto Pinochet no poder durante o plebiscito que definiu o fim do regime. Anos depois, ingressou no Congresso e exerceu quatro mandatos consecutivos como deputado, entre 2002 e 2018.
Inicialmente filiado à União Democrática Independente, Kast deixou a legenda em 2016. Três anos depois, fundou o Partido Republicano do Chile, que passou a ser sua base política. Antes da vitória atual, ele havia disputado a Presidência em outras duas ocasiões, nos pleitos de 2017 e 2021, sem sucesso.
Nos últimos anos, o político também teve atuação em fóruns internacionais. Entre 2022 e 2024, presidiu a Political Network for Values, entidade que reúne representantes de vários países e atua em debates sobre temas sociais e institucionais.
No cenário interno, Kast se posicionou contra as duas propostas de nova Constituição levadas a plebiscito, tanto a elaborada por uma convenção dominada por partidos de esquerda quanto a versão seguinte, mesmo com maioria de seu partido no processo.
Propostas de Kast para o Chile
Durante a corrida presidencial, a campanha de Kast concentrou-se em dois eixos: segurança pública e imigração. O candidato defendeu a adoção de medidas emergenciais para enfrentar o avanço do crime organizado e anunciou a criação de uma estrutura especial voltada à retomada de áreas controladas por grupos criminosos.
Entre as propostas apresentadas estão a construção de unidades prisionais de segurança máxima, o aumento das penas para determinados crimes e mudanças nas regras relacionadas à legítima defesa. O plano também prevê o fim dos chamados “narcofunerais”, prática associada a organizações criminosas no país.
Na área migratória, Kast afirmou que pretende reforçar o controle das fronteiras e fechar passagens consideradas irregulares. Ele defendeu a criminalização da imigração sem documentação e a realização de deportações de estrangeiros em situação irregular, inclusive por meio de voos fretados.
Parte dos custos dessas operações, segundo o plano, seria repassada aos próprios deportados. Nos dias finais da campanha, o discurso foi ajustado, com a indicação de que os procedimentos não seguiriam o modelo adotado pelos Estados Unidos.
O programa também estabelece que pessoas sem documentos não teriam acesso a benefícios oferecidos pelo Estado, como saúde, educação e políticas habitacionais. No campo econômico, Kast propôs reduzir despesas públicas em cerca de US$ 6 bilhões ao longo de um período de 18 meses. A viabilidade desse corte foi questionada por especialistas, diante do impacto potencial sobre programas sociais.
Ainda assim, o presidente eleito afirmou que ajustes seriam feitos sem afetar benefícios como a Pensão Garantida Universal. No sistema tributário, a proposta inclui a redução do imposto corporativo para empresas médias e grandes e a eliminação do tributo sobre ganhos de capital em determinadas operações com ações.
Em debates e entrevistas, Kast evitou abordar temas que marcaram campanhas anteriores, como aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo, além de declarações sobre o período do regime militar.
No cenário internacional, citou a posição do Chile em eventuais conflitos regionais e elogiou políticas de combate ao crime adotadas em outros países da América Latina.