O presidente do Chile, Gabriel Boric, afirmou, nesta segunda-feira (15), que o Estado usará a Inteligência Artificial (IA) para cruzar informações que permitam chegar ao paradeiro de mais de 1.000 pessoas presas desaparecidas durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

“No âmbito dos direitos humanos, a IA vai ter um papel importante no Plano Nacional de Busca de nossos presos desaparecidos”, anunciou o presidente Boric na inauguração do evento científico Congresso Futuro, sublinhando a importância da inteligência artificial como ferramenta no desenvolvimento do país.

O mandatário destacou desta forma o programa apresentado por seu governo em agosto com o qual o Estado chileno assumiu pela primeira vez o esforço de buscar os 1.162 presos desaparecidos da ditadura.

Com financiamento estatal, o plano busca reconstituir o que aconteceu com as vítimas após sua prisão e desaparecimento. Também se propõe a garantir o acesso à informação dos familiares e implementar medidas de reparação.

“A IA permitirá cruzar uma importante quantidade de informação, hoje dispersa em uma série de instituições”, assegura à AFP Paulina Zamorano, chefe do Programa de Direitos Humanos do Ministério da Justiça.

“A informação que se encontra nos arquivos é crucial para tal tarefa, mas também a que se encontra no Programa [de Direitos Humanos], cerca de 47 milhões de folhas”, explicou Zamorano, ao ressaltar que apenas ler esses antecedentes “levaria muitíssimos anos”.

Com a IA, o objetivo é reduzir o tempo de coleta dos dados e o cruzamento dessas informações.

Semanas depois do anúncio do plano de buscas, o governo informou que uma empresa privada desenvolverá uma plataforma, cujas bases são a tecnologia e a digitalização, para ajudar na busca de pessoas e na rastreabilidade dos possíveis locais onde essas pessoas estiveram presas na ditadura.

A maioria dos presos desaparecidos eram trabalhadores e agricultores com idade média de 29 anos. As prisões começaram logo após o golpe de Estado contra o governo do socialista Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973.

A ditadura deixou mais de 3.200 vítimas, entre mortos e presos desaparecidos.

O principal obstáculo para encontrar até agora os desaparecidos foi a pouca colaboração das Forças Armadas, que os familiares atribuem a um “pacto de silêncio” entre os militares.

Em uma mesa de diálogos instalado no fim dos anos 90, os militares forneceram dados de cerca de 200 presos, cujos cadáveres, asseguraram, haviam sido lançados ao mar. No entanto, alguns desses restos mortais foram encontrados em valas comuns.

ps/pb/mel/dd/am