O presidente do Chile, Gabriel Boric, anunciou, neste sábado (1º), que seu país apoiará a África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ) no processo contra Israel por usa operação militar no território palestino de Gaza.

“Decidi que o Chile participará e apoiará o caso apresentado pela África do Sul contra Israel perante a Corte Internacional de Justiça em Haia, no âmbito da Convenção de Genocídio da ONU”, disse Boric em uma mensagem ao Congresso Nacional na cidade de Valparaíso.

O presidente chileno fez o anúncio no âmbito do terceiro resumo de sua administração desde que assumiu a presidência, no qual também revelou que vai expropriar um enclave alemão fundado por um nazista e vai apresentar um projeto de lei sobre o aborto.

“O número de mortos já passa de 35.000, a situação humanitária é catastrófica e a infraestrutura de Gaza foi praticamente arrasada”, disse ele.

De acordo com o Ministério da Saúde na Faixa de Gaza, que é administrada pelo movimento islamista palestino Hamas, já foram registradas cerca de 36.400 mortes, a maioria de civis.

– As ações de Israel requerem uma resposta firme –

De acordo com o presidente chileno, “esses atos exigem uma resposta firme da comunidade internacional”.

A Comunidade Judaica do Chile, por sua vez, acusou Boric de utilizar o conflito em Gaza para seus objetivos políticos pessoais e polarizar o país.

“Esta intervenção ativa em um conflito externo, utilizando recursos fiscais, se percebe claramente como uma ação que prioriza seus próprios interesses pessoais sobre os da nação, mostrando um claro viés em relação ao tema”, assinalou a comunidade em comunicado na rede social X.

A comunidade judaica do Chile é formada por cerca de 20.000 pessoas, muito distante do meio milhão de palestinos que vivem no país.

O governo chileno condenou o recente ataque das tropas israelenses a um campo para palestinos deslocados em Rafah, na Faixa de Gaza, e pediu uma “interrupção imediata da ofensiva militar”.

O ataque israelense causou um incêndio em um campo de deslocados internos em Rafah, matando pelo menos 45 pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde do território palestino, que é governado pelo grupo islamista Hamas desde 2007.

Em resposta ao conflito, o Chile chamou seu embaixador em Israel para consultas em protesto contra a operação militar em Gaza em outubro passado.

Em janeiro, o Chile, juntamente com o México, apresentou uma solicitação ao promotor do Tribunal Penal Internacional (TPI) para investigar prováveis crimes de guerra no contexto do conflito entre Israel e o Hamas.

Boric considerou repetidamente que o que está acontecendo em Gaza “não tem justificativa alguma” ou é “simplesmente inaceitável”.

O Chile reconhece o Estado palestino desde 2011.

O conflito em Gaza começou em 7 de outubro, após um ataque do movimento islamista Hamas no sul de Israel, que deixou 1.170 mortos, a maioria civis, de acordo com dados israelenses.

– Ex-colônia nazista será desapropriada –

De acordo com seu discurso, o presidente também anunciou que seu governo desapropriará parte da Colonia Dignidad (260 km ao sul de Santiago), um enclave alemão fundado por um ex-enfermeiro nazista e usado por Pinochet para manter prisioneiros políticos.

“Hoje posso informar ao país que esta semana iniciamos o processo de desapropriação de parte das terras da antiga Colonia Dignidad em Villa Baviera, incluindo a antiga casa de Paul Schäfer”, disse Boric.

A Colonia Dignidad foi fundada em 1961 pelo ex-cabo nazista Paul Schäfer. O local foi apresentado como um idílico resort familiar.

Na realidade, Schäfer reinou brutalmente sobre essa comunidade alemã de algumas centenas de pessoas, submetendo-as à escravidão e abusando sexualmente de crianças.

Após a fuga de Schäfer em 1997, os chilenos descobriram que o enclave alemão também havia sido um inferno para os opositores da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), muitos dos quais foram torturados ou desapareceram no local.

Preso em 2005 na Argentina, Paul Schäfer morreu na prisão em 2010.

Boric disse que “esse é um passo importante no caminho para consagrar o local como um espaço de memória. Assim, do sul do Chile à Alemanha, em uma só voz dizemos ao mundo: Nunca mais!”

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