O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, abriu a porta nesta sexta-feira (23) a um primeiro corte nas taxas de juros na próxima reunião da organização, em setembro, notícia há muito tempo aguardada pelos mercados.

“Chegou a hora de um ajuste da política” monetária, declarou Powell durante seu tradicional discurso na reunião de banqueiros centrais de Jackson Hole (Wyoming). “A direção é clara”, acrescentou.

O presidente do banco central americano assegurou que a sua “confiança aumentou no fato de a inflação estar em uma trajetória duradoura regressando aos 2%”, que é o objetivo da instituição.

Até agora, Powell não tinha dado indicações sobre datas para um corte nas taxas, uma medida há muito esperada pelo mercado porque reduz o custo do dinheiro e dinamiza os fluxos de fundos na economia.

O Fed aumentou as taxas de juros para combater a inflação. As taxas elevadas tornam o crédito mais caro e desencorajam o consumo e o investimento, reduzindo assim a pressão sobre os preços.

Mas no primeiro semestre a inflação voltou a causar alguns sustos.

Agora, Powell foi direto. “O ritmo dos cortes nas taxas dependerá dos dados que chegarem, da evolução das perspectivas (econômicas) e do equilíbrio dos riscos” entre a manutenção do pleno emprego e o controle da inflação, os dois mandatos regulamentares que o Fed tem.

Na linguagem muito particular dos banqueiros centrais, a mensagem de Powell indica que o comitê de política monetária (FOMC) do Fed agirá sobre as taxas na sua próxima reunião, em 17 e 18 de setembro, a última antes das eleições presidenciais nos Estados Unidos, em 5 de novembro.

Na quarta-feira, foi anunciado nas “minutas” – extratos da última reunião do FOMC do Fed – que “a grande maioria (dos membros daquele órgão) destaca que, se os dados continuarem na trajetória esperada, seria provavelmente adequado flexibilizar a política (monetária) durante a próxima reunião”.

Wall Street estava claramente reagindo à alta, com seus principais indicadores solidamente posicionados acima de 1% de lucro às 14h30 GMT (11h30 no horário de Brasília).

– Mudança de equilíbrios –

“Há uma boa chance de que os dados recentes tenham fortalecido (a postura) das ‘pombas’ (como são conhecidos os membros do FOMC que tendem a se preocupar mais com a evolução do mercado de trabalho e a favorecer taxas mais baixas, ndr) e acalmado os ‘falcões’ (mais focados na inflação e mais ortodoxos, ndr)” dentro do Fed, resumiu em uma nota de análise o economista-chefe da Pantheon Macroeconomics, Ian Shepherdson.

Em particular, a revisão, na quarta-feira, do valor da criação de emprego nos Estados Unidos no ano fiscal encerrado em março mostrou que o mercado de trabalho está em uma fase de enfraquecimento.

A informação preliminar do último ano fiscal indica que a economia dos EUA criou menos 818 mil empregos do que os números considerados até agora.

Esta correção da estimativa representa uma redução de 30% face aos dados iniciais de 2,9 milhões de empregos criados em março passado.

Estes números sugerem que “a economia continua crescendo, mas a um ritmo mais moderado”, disse à AFP o economista da EY, Gregory Daco.

– Emprego, outra vez no radar –

Até agora, os dados mostravam um enfraquecimento progressivo da criação de emprego, mas as novas informações, e um aumento do desemprego para 4,3%, sublinham o risco de se tornar um problema.

“Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para sustentar um mercado de trabalho forte”, disse Powell em Jackson Hole, um sinal de que o emprego está mais uma vez no radar do Federal Reserve.

Todos os analistas esperam uma redução das taxas de juros em setembro, a maioria de 25 pontos base, embora 40% esperem inclusive uma redução de meio ponto percentual. Powell não forneceu detalhes sobre a magnitude da variação.