21/11/2019 - 14:57
O fracasso das manifestações do último dia 9 demonstra que o Brasil está cansado de radicalismo. O bolsonarismo foi às ruas para manifestar sua insatisfação frente à decisão do STF em relação aos condenados em segunda instância. Na verdade, foi mero pretexto para mais uma vez atacar as instituições, a Constituição e o estado democrático de direito. Pouca gente compareceu. Os lulistas, por sua vez, receberam o seu líder em São Bernardo do Campo. O sentenciado por corrupção e lavagem de dinheiro, apesar da ampla cobertura midiática, reuniu apenas algumas centenas de adeptos. Aproveitou para também insultar as instituições e omitir os escândalos protagonizados pelo PT.
Nem de leve recordou do Mensalão, muito menos do Petrolão. Os dois radicalismos têm na Constituição o grande adversário. Lutam abertamente para desqualificá-la. Não suportam os limites legais que contém as ações reacionárias que sustentam diuturnamente contra a democracia. Insinuam que estão prontos para a violência. Querem ocupar todo o espaço político, impedindo que as forças democráticas de todos os matizes — da direita à esquerda — tenham protagonismo. Desta forma, almejam manter a polarização que, na essência, despolitiza o debate, pois privilegia o personalismo e os ataques recíprocos sem qualquer mediação.
Bolsonaro e Lula são produtos da desmoralização das instituições do Estado. Representam o final de um processo histórico nascido nos anos 1980. Produzem o impasse, não o caminho para a superação da crise. Aprofundam a tensão, jogam com o quanto pior, melhor. Um quer transformar o outro no inimigo da estabilidade. Isto enquanto ambos produzem instabilidade, cada um do seu jeito.
O cenário para os próximos meses é preocupante. A tendência é que ambos ocuparão todos os espaços políticos. Não tanto por seus próprios méritos, mas pela omissão das outras correntes de pensamento. É incrível como lideranças que poderiam contribuir para o rompimento desta relação binária, tão nociva ao País, não consigam se transformar em referências positivas, qualificando o debate e isolando esses caudilhos reacionários.
Bolsonaristas e lulistas padecem dos mesmos vícios. As diferenças são mínimas. Uma delas é que o petismo consegue simular seu projeto de poder com tinturas democráticas, já o bolsonarismo deixa seu namoro com o autoritarismo às claras. E ambos odeiam as liberdades democráticas, a pluralidade, o respeito com a coisa pública, o diálogo e os interesses nacionais.