A monotonia foi a parte mais difícil de um experimento da Nasa de um ano de duração sobre os efeitos mentais e psicológicos de voos espaciais de longo prazo, disseram os membros da tripulação após o final do teste.

Os seis tripulantes isolados em um local remoto do Havaí, em uma encosta árida no norte do vulcão Mauna Loa, saíram no domingo da sua cúpula, onde foram estudados como parte da missão da agência espacial americana para enviar pessoas a Marte por volta do ano 2030.

“Parabéns à Nasa e aos cientistas que nos levaram um passo mais perto de Marte. Agora desfrutem do Havaí e tomem um shave ice”, disse na segunda-feira no Twitter o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em referência à uma sobremesa local feita à base de sorvete.

Além da estimulação insuficiente, o isolamento e a falta de alimentos frescos e de ar foram os maiores desafios durante a experiência de um ano, que é parte de um programa chamado Hawaii Space Exploration Analog and Simulation (HI-SEAS).

A equipe se encerrou na cúpula, de 11 metros de diâmetro e seis de altura, localizada em uma pedreira abandonada longe de animais e vegetação, em 28 de agosto de 2015.

O experimento mostra que “uma missão a Marte no futuro próximo é realista”, disse um dos participantes, o astrobiologista francês Cyprien Verseux em uma entrevista feita com o aplicativo de streaming de vídeo Periscope e divulgada no Twitter.

Verseux disse que um dos principais obstáculos envolve a produção de alimentos e um ecossistema em pequena escala em Marte, onde a atmosfera é fina, a terra é seca e a água é escassa.

O experimento não testou o processo de cultivo de alimentos, senão que foi direcionado principalmente ao estudo psicológico da tripulação.

“Os problemas técnicos e psicológicos podem ser superados”, afirmou Verseux.

Salsa, antídoto para o tédio

Um vídeo mostra os três homens e as três mulheres da equipe saindo da cúpula um tanto perplexos enquanto posavam para selfies com visitantes e apoiadores. Os organizadores lhes ofereceram frutas e legumes frescos.

Em entrevistas, a tripulação se mostrou otimista, mas fez referências às brigas e ao cansaço de ver as mesmas caras o tempo inteiro.

“Estávamos sempre no mesmo lugar, sempre com as mesmas pessoas”, disse Verseux.

Seu conselho aos próximos voluntários de um experimento de isolamento similar? “Levem livros”.

Outro membro da missão, o americano Tristan Bassingthwaighte, concordou, pedindo aos futuros participantes para trazerem “muitos livros”.

Bassingthwaighte disse que os membros da equipe se envolveram em hobbies como dançar salsa e tocar ukelele para afastar o tédio e não “ficarem loucos”.

Os membros da equipe podiam se aventurar do lado de fora apenas em trajes espaciais, e Bassingthwaighte disse que os ‘astronautas’ removeram uma grande quantidade de lixo em torno do vulcão nas suas excursões.

Christiane Heinicke, da Alemanha, disse que seu principal experimento foi extrair água do solo, acrescentando que a composição mineral do solo vulcânico do Mauna Loa é muito similar à do solo marciano.

“Você realmente pode obter água de um terreno que é aparentemente seco”, disse Heinicke aos organizadores em um vídeo também do Periscope. “A implicação disso é que você pode obter água em Marte”.

A tripulação também incluiu um piloto, um médico/jornalista e um cientista do solo.

Os homens e mulheres tinham seus próprios quartos, pequenos mas com espaço para camas dobráveis e mesas, e passaram seus dias comendo alimentos como queijo em pó e atum enlatado.

A cúpula tinha banheiros e chuveiros que funcionavam a base de compostagem, e era alimentada por energia solar. Os membros da equipe tinham acesso limitado à internet.

Atualmente, a Nasa pode enviar um robô a Marte em oito meses, mas os astronautas que forem ao Planeta Vermelho enfrentarão uma viagem com duração de entre um e três anos.

A Nasa está estudando como esses cenários de isolamento de longo prazo funcionam na Terra, através do programa HI-SEAS, antes de ir adiante com a missão a Marte, que a agência espacial americana espera alcançar na década de 2030.

O primeiro experimento HI-SEAS envolveu estudos sobre cozinhar em Marte e foi seguido por missões de coabitação de quatro e oito meses de duração.

Mais duas missões HI-SEAS estão previstas para 2017 e 2018. Ambas deverão durar oito meses cada, e os organizadores já estão à procura de voluntários.