28/05/2021 - 9:30
Mariana Aleixo, chef do Maré de Sabores (Crédito:Chico Ferreira)
A tendência gastronômica do momento é apreciar a culinária que vem das comunidades. Além de restaurantes pioneiros e já estabelecidos, como o paraense “Remanso do Peixe”, em Belém, ou o popular e disputado “Mocotó”, na zona norte de São Paulo, há uma nova geração de chefs que, além de cozinhar muito bem, busca integrar seus estabelecimentos a projetos sociais sediados nos locais onde vivem. Dois deles até entraram para a “World’s 50 Next”, lista de revelações elaborada pela renomada revista britânica “Restaurant”, publicação que aponta os destaques da gastronomia mundial. “Não é só o alimento, é a transformação de um espaço através da comida de qualidade”, diz a chef de 32 anos, Mariana Aleixo, à frente do Maré de Sabores. O local não é, ainda, um restaurante com endereço fixo, mas um serviço de entregas, buffet e escola para mulheres localizado no complexo de favelas da Maré, no Rio de Janeiro. Mesmo assim, foi citado pela “Restaurant”, que inclui 50 lugares promissores em 32 países. Além de Mariana, a lista também trouxe o brasileiro Thiago Vinícius da Silva, de 33 anos, líder comunitário da região do Campo Limpo, em São Paulo.
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Thiago não é o chef do restaurante Organicamente Rango, mas o responsável por comprar ingredientes, falar com fornecedores e até fazer bico de garçom quando as coisas estão muito agitadas. Quem cozinha no agora premiado local é Tia Nice, mãe do empreendedor e cozinheira de mão cheia. O Organicamente Rango tem um cardápio variado, com destaque para as receitas vegetarianas.
“As pessoas acham que não tem vegetariano em comunidade. Somos um refúgio sem carne na quebrada”, diz. Ser citado pela publicação internacional dá visibilidade para locais que dificilmente chamariam a atenção dos amantes da gastronomia. “O reconhecimento traz um colorido para a região. Um olhar de potência, não de carência”. Seu restaurante faz parte da Agência Popular Solano Trindade, que abriga uma rádio comunitária, espaço cultural e um armazém de produtos orgânicos.
Tanto Thiago como Mariana atuam fortemente em suas comunidades, doando alimentos, quentinhas e cestas básicas, principalmente em tempos de pandemia. Nascida na Maré, Mariana é formada em Gastronomia e possui mestrado e doutorado em Engenharia de Produção. Ela foi a responsável pela ceia de Natal do chef francês Claude Troisgros, e também atende com frequência a atriz Flávia Alessandra. “Oferecemos muito mais que cursos de Gastronomia. Também ensinamos formação de gênero, oferecemos assistência social, advogados e pscicólogos”, diz.
O Maré de Sabores está integrado ao “Redes da Maré”, movimento comunitário que já atendeu oitocentas mulheres.
O chef João Diamante, de 30 anos, foi responsável pelas refeições dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016 e foi chef do Museu do Amanhã. Começou como estagiário do chef francês Alain Ducasse no restaurante “Les Jules Vernes”, na Torre Eiffel, em Paris. “Um menino pobre, nordestino, preto e favelado que um dia mora numa comunidade do Rio de Janeiro e no outro mora na França? Parece um sonho”, diz.
Agora ele vai dar cara nova ao restaurante “Na Minha Casa”, fechado pela pandemia. “Ele será itinerante, primeiro aqui no Rio e, quando as coisas melhorarem, pelo resto do País”, diz. Ele tem ainda o projeto de ensino social e gastronômico para as comunidades, o “Diamantes da Cozinha”. Comanda um reality show sobre culinária e quer ser modelo, influencer e palestrante. “Essa diversificação de negócios é incrível. Eu me identificava só como chef de cozinha, mas quero fazer da gastronomia uma plataforma de transformação social.”
