O prior do mausoléu onde está enterrado Francisco Franco rejeitou a exumação do ditador fascista, informou nesta quinta-feira o governo espanhol, assegurando que este novo obstáculo não impedirá a conclusão do polêmico projeto.
O farônico complexo localizado em uma montanha perto de Madri é adminitrado por monges beneditinos e o governo está pressionando a igreja para convencer o prior.
Em comunicado, o executivo anunciou que já previa a oposição do religioso que “foi candidato às eleições gerais de 1993 e às eleições europeias de 1994 pelo partido Falange Espanhola Independente”, de ideologia fascista.
“A posição obstrucionista do prior Santiago Cantera não impedirá que o processo siga seu curso”, insistiu.
E em um aviso para a hierarquia católica, acrescentou: “A opinião pública pode considerar que a Igreja espanhola como um todo apoia a recusa deste antigo candidato falangista (…) e, com ela, a negação da própria família Franco”.
A abadia que administra a basílica onde Franco está enterrado junto com dezenas de milhares de vítimas da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) não pode ser contactada para falar sobre o caso.
Muitos na Espanha se opõem à existência do chamado Vale dos Caídos concebido pelo ditador, que assumiu o poder após um levante militar contra a Segunda República (1931-1939) e uma sangrenta guerra civil, assegurando que é o equivalente a um monumento de homenagem a Hitler.
Outros insistem que o mausoléu, que Franco construiu em parte com o trabalho forçado de presos políticos e defendeu como um lugar de reconciliação, é um pedaço da história.
Com o túmulo do ditador sempre coberto de flores frescas, a basílica é um ponto de encontro de nostálgicos do regime franquista.
O chefe de governo socialista Pedro Sánchez, que chegou ao poder em junho depois de destituir seu antecessor conservador, fez da exumação do mausoléu de Franco uma prioridade.
“Algo que é inimaginável na Alemanha ou na Itália, em países que também sofreram ditaduras fascistas, acho que não pode ser imaginável em nosso país”, disse ele em junho.
Os deputados espanhóis aprovaram a exumação em setembro, mas a família do ex-ditador espanhol entre 1939 e 1975 tenta boicotá-la.
Assim, propuseram transferir os restos mortais de Franco para uma cripta familiar na catedral de Almudena, no centro de Madri.
O governo, por outro lado, deseja um lugar mais discreto.
O veto do prior à exumação complica ainda mais os planos de Sánchez, que já foram adiados várias vezes. Em sua declaração, o executivo diz que planeja transferir seu pedido para as instâncias superiores do prior.