O chefe negociador da guerrilha do ELN nos diálogos de paz com o governo da Colômbia acredita que ambas as partes estão perto de acordar um “cessar-fogo bilateral temporário” antes da visita do papa Francisco, em setembro.

Em entrevista à AFP nos arredores de Quito, na elegante fazenda jesuíta onde representantes do governo de Juan Manuel Santos e do Exército de Libertação Nacional (ELN), a última guerrilha ativa da Colômbia, negociam há quatro meses, Pablo Beltrán, 63 anos, também espera poder reunir-se com o pontífice em Villavicencio (centro colombiano).

– O governo e o ELN disseram que estão buscando um cessar-fogo bilateral para antes da visita do papa Francisco.

Estamos perto de que haja um cessar-fogo bilateral temporário. Não há uma data definida, mas tentamos que seja por volta dessas datas, antes da chegada de sua de Santidade. Previmos aperfeiçoar o acordo em julho e agosto.

– Como seria esse acordo?

Nos acordos está previsto um cessar-fogo de final de conflito. Este seria distinto, no começo das negociações. É um cessar-fogo entre as partes, mas também serão feitos alguns acordos de ordem humanitária que aliviem a situação da população não combatente. Estamos pedindo que haja um fim dos ataques e da perseguição contra líderes sociais, ambientalistas e de direitos humanos.

Para nós é muito importante que o governo rompa os vínculos que tem com os paramilitares e que garanta que as pessoas que não estão de acordo com o governo possam fazer sua política e não sejam perseguidas.

– Mas o governo condiciona esse cessar-fogo bilateral ao fim dos sequestros pelo ELN?

Sim. Durante o cessar-fogo o acordo é que se interrompam as operações ofensivas; as defensivas continuam vigentes. Nos territórios onde o ELN está, necessariamente será preciso fazer privações da liberdade de pessoas de fora que entrarem, como medida de segurança. Nesse período, interromperíamos apenas as privações de liberdades econômicas. Isso é como um teste, se funcionasse, veríamos se seria prolongado.

– Quantas pessoas o ELN tem em seu poder?

Muito poucas se você comparar o número de privações de liberdade que fazemos com o número de assassinatos de líderes sociais que houve neste ano. Já passam de 50 os assassinatos, e as privações de liberdade que fizemos não chegam a 10% desses 50.

– Vocês esperam se reunir com o papa Francisco?

Temos essa expectativa. Dentro das cidades que vai visitar, o papa vai a Villavicencio. Nessa cidade se fará um ato especial de reconciliação e nós esperamos estar presentes.

– Estar presentes ou serem recebidos?

Ambas as coisas. Na Colômbia um papa vem a cada 20 anos e, se vem estimular o processo de paz, gostaríamos de saudar sua Santidade. Diremos a ele que continue acompanhando a busca da paz na Colômbia e no continente.

– Caso assine o acordo com o ELN, a Colômbia terá a “paz completa”, como diz o governo após o pacto com as Farc?

O ponto 5 da agenda que estamos discutindo diz: Vamos tirar a violência da política. São os dois lados da moeda. Por um lado é que a guerrilha deixe de buscar o poder com as armas, e o outro lado que o regime deixe de manter o poder com as armas. Essa é a grande aposta.

– O ELN ocupou áreas que antes eram das Farc?

Em muitas áreas as duas guerrilhas estavam juntas, não se trata de uma ir embora e a outra tomar (a área). Quanto mais eles se concentram, mais nós ficamos sozinhos. Em algumas áreas onde estivemos e em que estão chegando os paramilitares, nos pedem para ir embora. Em algumas nós fomos, mas não temos capacidade de sair de todas.

Em toda a zona do Pacífico houve muitos combates neste ano, porque os grupos paramilitares tentaram ocupar essa área, que é uma grande plataforma de exportação de drogas.

– O ELN também foi acusado de se financiar em parte com recursos do narcotráfico.

Em todas as partes da Colômbia onde o ELN está os médios e grandes produtores pagam um imposto do que for: gado, palma africana, mineração, cocaína. Uma coisa é cobrar esse imposto de segurança e outra é se envolver no tráfico.

– Há desertores das Farc que passaram para o ELN?

Das Farc não tivemos. Como cresce a perseguição política e tem havido tantas mortes de líderes (sociais), muita juventude urbana e rural vê que uma opção é entrar no ELN. Estamos tendo mais pedidos de entrada como reação a essa perseguição política crescente.