O misterioso Sanaullah Ghafari liderou um espetacular ressurgimento do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) no Afeganistão, com múltiplos ataques contra o regime talibã.

Na segunda-feira (7), os Estados Unidos ofereceram até US$ 10 milhões por informações que levem à “identificação, ou à localização”, do líder do Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), também conhecido pelo nome de Shahab al Muhajir.

“Ghafari é responsável por aprovar todas as operações do EI-K em todo Afeganistão e por organizar os fundos para realizar as operações”, afirmou o Departamento de Estado americano, que o colocou na lista negativa de terroristas estrangeiros dos EUA em novembro passado.

Pouco se sabe sobre Ghafari, incluindo sua origem: alguns o consideram afegão, outros iraquianos. Chefe do EI-K desde meados de 2020, ele é apresentado como comandante militar do EI em Cabul, que “participou do planejamento e da organização de operações de guerrilha e de ataques suicidas”, de acordo com a ONG Counter-Extremism Project(CEP).

Inicialmente ligado à rede ultraconservadora Haqqani, uma facção próxima à Al-Qaeda e hoje integrada ao talibã, Ghafari permitiu, graças à sua “competência” e a “seu acesso às redes”, que o EI sobrevivesse aos violentos ataques dos talibãs e dos americanos em 2020.

Desde então, o EI-K exibe uma eficácia devastadora. A consultoria Jihad Analytics (JA), especialista em análise de jihad e cibernética, destaca que o grupo reivindicou 340 ataques em 2021. Trata-se de um nível recorde desde 2018, quando foi classificado como uma das quatro organizações terroristas mais sangrentas do mundo.

À Ghafari atribui-se o ataque ao aeroporto de Cabul, em 26 de agosto de 2021, que deixou 185 mortos, entre eles 13 soldados americanos, além de operações sofisticadas, como o cerco à prisão de Jalalabad por 20 horas, em 2020.

Tudo isso, desenvolvendo uma estratégia alinhada às ambições mundiais do EI central e, ao mesmo tempo, concentrada nas realidades locais afegãs, o celeiro de pequenos grupos jihadistas.

Segundo o CEP, as ambições deste homem de apenas 27 anos, não se limitam, porém, ao Afeganistão. O grupo de especialistas em terrorismo das Nações Unidas afirma que o EI-K está desenvolvendo um “programa regional mais amplo, ameaçando os países vizinhos da Ásia Central e do Sul da Ásia”.

Além disso, ainda conforme o CEP, Ghafari é, hoje, responsável pelo escritório do EI Al-Sadiq. Este braço administra uma área que abrange Afeganistão, Bangladesh, Índia, Maldivas, Paquistão, Sri Lanka e países da Ásia Central.

Ghafari também é altamente considerado pelo EI central, com quem mantém laços estreitos. O líder do EI-K pode, assim, mobilizar mais combatentes estrangeiros, como fez na Síria e no Iraque nos tempos de seu autoproclamado califado (2014-2019).

Em um contexto de crise econômica e de fronteiras porosas, ataques suicidas do EI-K “podem transformar o Afeganistão em um novo ponto de acesso para apoiadores do EI no Oriente Médio e na Ásia Central e do Sul”, alerta Uran Botobekov, um especialista quirguiz no movimento jihadista.