O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, denunciou nesta quarta-feira (8) que o conflito na Líbia atingiu uma interferência estrangeira “sem precedentes”, com a entrega de equipamentos sofisticados e mercenários envolvidos nos combates.

Em uma videoconferência do Conselho de Segurança, Guterres expressou preocupação com o reagrupamento das forças militares na cidade de Sirte, a meio caminho entre Trípoli (oeste) e Benghazi (leste).

“O conflito entrou em uma nova fase, com a interferência estrangeira atingindo níveis sem precedentes, incluindo a entrega de equipamentos sofisticados e o número de mercenários envolvidos na luta”, disse.

As forças do governo de União Nacional (GNA), com sede em Trípoli e reconhecido pela ONU, “com apoio externo significativo, continuam seu avanço para o leste e agora estão 25 km a oeste de Sirte”, afirmou.

No passado, essas forças tentaram tomar a cidade duas vezes, lembrou Guterres.

Com o apoio da Turquia, o GNA se opõe às forças do marechal Khalifa Haftar, que controla grandes áreas no leste da Líbia, apoiado pelo Egito e pelos Emirados Árabes Unidos.

“Estamos muito preocupados com a alarmante concentração militar em torno da cidade e com o alto nível de interferência externa direta no conflito, violando o embargo de armas da ONU, as resoluções do Conselho de Segurança e os compromissos dos Estados membros assumidos em Berlim” em janeiro, insistiu Guterres, sem apontar para nenhum país em particular.

O secretário-geral acrescentou ainda que as discussões realizadas pela ONU com representantes militares das duas partes incluíam “a partida de mercenários estrangeiros”, uma “cooperação antiterrorismo”, um “desarmamento e desmobilização” e até a possibilidade de um mecanismo de cessar-fogo.

Ele também mencionou, sem maiores detalhes, a possibilidade de criar uma “zona desmilitarizada”, cujo controle seria confiado à missão da ONU presente na Líbia.

A presença na Líbia de mercenários russos e sírios (afiliados ao regime sírio ao lado daqueles que lutam com as tropas de Haftar e outros nas forças do GNA) tem sido mencionada frequentemente desde o início do ano.

A mais recente atividade militar ao sul de Trípoli e na região de Tarhouna forçou quase 30.000 pessoas a deixar suas casas, elevando o número de deslocados na Líbia para mais de 400.000, disse o chefe da ONU.