Ex-presidente da CBF, Marco Polo del Nero está banido do futebol pela Fifa por corrupção e suborno, mas a punição de amplitude mundial não fez o ex-dirigente deixar de agir nos bastidores para tentar tirar Reinaldo Carneiro Bastos da presidência da Federação Paulista de Futebol (FPF). Dono deste último cargo entre 2003 e 2015, ele rompeu com o atual mandatário da entidade, que antes era seu vice-presidente, mas não desistiu de voltar a “dar as cartas” ao menos em âmbito estadual ao tentar convencer líderes de clubes a unirem forças e inscreverem uma possível chapa de oposição para concorrer na próxima eleição da FPF, marcada para acontecer no dia 30 de agosto.

Uma matéria publicada nesta sexta-feira pelo Estado revelou com exclusividade como Del Nero agiu de forma irregular ao ligar para presidentes de clubes do interior de São Paulo e outros dirigentes com os quais têm boa relação para induzi-los a formar um grupo que tentaria eleger um novo candidato. Em troca, segundo apurou a reportagem, ele fez uma série de promessas, entre elas fornecer ajuda financeira, atender reivindicações de mandatários de clubes insatisfeitos com o atual modelo de gestão da FPF e até conceder regalias, como convites para eventos realizados fora do Brasil.

Em meio a esta articulação de Del Nero para retomar o poder na entidade com um presidente que ele poderia manipular mesmo estando fora da federação, a figura do presidente do Bragantino, Marco Chedid, ganhou força a partir do mês passado. O dirigente de 60 anos lançou oficialmente, em 17 de julho, um movimento por meio do qual defendeu mudanças e apresentou uma série de “sugestões” à FPF com a declarada justificativa de “fortalecer o futebol paulista no cenário nacional” e ajudar os clubes do interior a melhorar as suas condições ou até mesmo simplesmente sobreviverem diante das sérias dificuldades financeiras que estão enfrentando neste período de crise nacional da economia brasileira.

Chedid foi tido como um possível candidato de oposição quando lançou este movimento, mas logo passou a negar que almejava a presidência da FPF ou tinha a intenção de inscrever um nome de consenso do seu grupo de aliados em uma chapa de oposição na eleição da entidade.

Adotando um discurso de que é preciso buscar melhorias para os clubes de forma pacífica e sem se colocar como um inimigo da atual gestão após supostamente perceber que não teria força para tirar Carneiro Bastos do poder, o dirigente que preside o clube de Bragança Paulista desde 1998 despistou quando foi questionado pelo Estado, na última quinta-feira à noite, se a sua iniciativa recente de liderar um movimento teria ocorrido sob influência ou pressão direta de Marco Polo del Nero.

“A nossa posição é de melhorar as condições do futebol do interior, buscando sempre diálogo com os clubes. Isto foi aberto com os dirigentes e o objetivo foi alcançado”, afirmou Marquinho Chedid, sem sequer citar o nome do ex-dirigente. Ao desconversar sobre Del Nero, ele se referiu também ao fato de que divulgou nesta quinta-feira uma carta na qual confirmou que conseguiu respostas positivas da FPF no sentido de atender algumas das reivindicações listadas por ele em 12 itens de um manifesto no mês passado, quando lançou o movimento denominado Renovação do Futebol Paulista.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Desta forma, Chedid indicou que não deverá figurar como candidato ou inscrever uma chapa de oposição na eleição do próximo dia 30. Porém, foi enigmático quando questionado pelo Estado, na noite de quinta-feira, se foi procurado por Del Nero para liderar uma frente que visava destronar Carneiro Bastos nas urnas da FPF. “Tenho contato com todos os dirigentes”, se limitou a responder sobre o assunto, sem confirmar ou negar que tenha articulado algum projeto de poder com ex-presidente da CBF ou sido orientado pelo cartola a liderar o movimento que promoveu.

Não é nenhum segredo que ele contava ou receberia o apoio “secreto” de Del Nero para assumir o comando do futebol paulista, mas o filho de Nabi Abi Chedid, morto em 2006 e presidente da própria FPF entre 1979 e 1982, sequer poderia confirmar que ganhou ajuda do banido cartola para vislumbrar este posto, pois complicaria ainda mais a situação do ex-dirigente máximo da CBF.

Isso pelo fato de que Del Nero não poderia estar agindo nos bastidores porque a punição aplicada contra ele pela Fifa o impede de atuar em qualquer atividade ligada ao futebol profissional em todo o mundo. Caso este tipo de prática ilegal seja comprovado que existiu, ele poderá receber novas multas do órgão internacional, que em abril, além de bani-lo do futebol, o aplicou uma sanção de US$ 1 milhão (cerca de R$ 3,75 milhões) .

Com gestões da situação soberanas há mais de três décadas, pois não tem um candidato da oposição eleito presidente desde quando José Maria Marin venceu Nabi Abi Chedid no pleito realizado em 1982, a FPF vem sendo presidida por Carneiro Bastos desde 2015. O atual mandatário assumiu o cargo como substituto de Del Nero, então confirmado como novo comandante da CBF para o lugar de José Maria Marin.

Marin cumpre pena em prisão nos Estados Unidos após ser extraditado ao país meses depois de ser detido, na Suíça, em maio de 2015, no escândalo de corrupção da Fifa que levou para a cadeia vários outros cartolas do primeiro escalão do futebol mundial. Em solo norte-americano, por sinal, Del Nero foi indicado por corrupção e não pode fazer viagens para a fora do Brasil, sob o risco de ser detido.

Com mandato vigente até dezembro na FPF após poder ocupá-lo ao percorrer uma rota pavimentada por estes escândalos, Carneiro Bastos agora tem tudo para ser reeleito para comandar a entidade no período entre 2019 e 2022.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias