Pouquíssimas rainhas foram tão longevas como Elizabeth II, que é chefe de Estado do Reino Unido e de mais 11 países desde 1952. Aos 95 anos e abalada pela morte recente do seu marido Philip, duque de Edimburgo, a rainha prepara seu filho primogênito Charles para a sucessão. É um assunto recorrente no país que é vidrado pela família real. Os britânicos, e particularmente os ingleses, têm veneração por Elizabeth II e outras figuras da dinastia de Windsor. É difícil achar uma casa que não tenha o retrato de Elizabeth II, ou da princesa Diana, falecida em um acidente de carro em Paris, em 1996. Já o príncipe de Gales não é tão popular. Uma pesquisa recente mostrou que apenas 40% dos britânicos o aprovam, enquanto Elizabeth II tem 69% de aprovação.

MONARQUIA MILENAR A realeza governa a Inglaterra desde o século X

A sucessão, contudo, já foi definida pela própria rainha. Ela determinou que em qualquer eventualidade Charles, de 72 anos, assumirá a coroa britânica. “A própria rainha descartou, há alguns anos, a sugestão de que a coroa passasse diretamente para o príncipe William, de 38 anos”, afirma Carolina Pavese, professora de relações internacionais da ESPM. Para ela, Charles será rei e dividirá tarefas com seu filho William por dois motivos. O primeiro é que ele mesmo já tem uma idade avançada. O segundo é que William é muito popular no Reino Unido. William é casado com Kate Middleton, de 39 anos e duquesa de Cambridge, com quem tem três filhos. Para muitos britânicos, o casal transmite a imagem de “um par perfeito”.

Charles já têm assumido mais funções cerimoniais. O seu reinado pode começar com um corte nas despesas da monarquia britânica. Em 2020, a “firma” como os britânicos popularmente chamam a família real, custou 89 milhões de libras (R$ 550 milhões) ao contribuinte. Os gastos da realeza dobraram entre 2012 e 2020. Isso, somado à mudança geracional em curso na Grã-Bretanha, como em outros países europeus, levou a um aumento das críticas. Uma das especulações é que o príncipe Harry, de 36 anos, filho mais novo de Charles e que vive na Califórnia com sua esposa Meghan Markle e o filho do casal, o bebê Archibald, possa ser excluído da folha de pagamento. Harry fez um contrato de US$ 100 milhões (R$ 530 milhões) com a Netflix em 2020. A imagem dele e de Meghan é boa nos Estados Unidos, mas ruim na Grã-Bretanha, diz a especialista. “Além disto, Harry falou coisas inconsistentes sobre a família real em entrevistas. Tabloides ingleses apuraram que declarações do príncipe não batiam com fatos reais”, comenta. Em 2020, Harry e Meghan disseram que não precisavam mais do dinheiro da monarquia e, como a maioria dos mortais, trabalhariam para se sustentar. Harry ainda mantém o título de duque de Sussex e Meghan, o de duquesa.

A própria rainha descartou a sugestão de que a coroa passasse diretamente para o príncipe William, de 38 anos, mais popular que o pai no Reino Unido

RAINHA-CONSORTE Camilla recuperou
a imagem com causas ambientais (Crédito:HAGEN HOPKINS)

O Papel de Camilla

Além do possível desligamento financeiro de Harry, a ascensão de Charles poderá levar ao reconhecimento da sua atual mulher, Camilla Parker-Bowles, de 73 anos, como “rainha-consorte”. Atualmente, ela detém o título de duquesa da Cornualha. Como ressaltou a imprensa britânica, a morte do duque de Edimburgo tornou Charles o patriarca da família e da casa de Windsor. A ligação de Charles com Camilla precede o próprio casamento do príncipe com a princesa Diana, em 1981. Charles e Camilla se casaram em cerimônia civil em 2005. Ela deverá assumir um papel secundário na monarquia, como o príncipe Philip teve. Existe uma parte da população britânica que hoje já a aceita como consorte de Charles. A duquesa, ao acompanhar Charles em eventos filantrópicos e em defesa do meio ambiente, conseguiu reconstruir sua imagem junto ao público britânico, que ficou abalado com a morte trágica de Diana.

A monarquia ainda tem um poder substancial no Reino Unido. Embora raramente isto tenha ocorrido nos últimos 200 anos, um rei ou rainha pode suspender o parlamento ou a nomeação de ministros. Elizabeth II tenta ser apartidária e nunca se pronuncia sobre questões controversas. É muito provável que Charles tenha um perfil público ainda mais discreto. Seja qual for o perfil que ele adotar, a família real britânica ainda manterá seu papel vital de manter a identidade do país que adora falar em modernidade, mas mantém os olhos fixos no passado.