O mundo parou para acompanhar a de coroação do Rei Charles III, em Londres. Todos não só queriam ver a cerimônia, mas também conhecer mais sobre a realeza. Nesse universo, pouco se falou sobre as aptidões do novo rei. Difícil acreditar, mas o fato é que o rei Charles III é um dos artistas britânicos de maior sucesso do Reino Unido e suas obras já renderam muitos milhões de libras.

Na década de 70, quem o inspirou foi Robert Waddell, seu mestre de arte na Gordonstoun School. A escola ficava na Escócia em uma área verde, com 200 hectares de florestas e a natureza era um convite para o registro. Na época, ele começou a divulgar suas aptidões artísticas e suas preferências: gostava de pintar aquarela e preferia cenas ao ar livre. Dizem que Charles começou a explorar a aquarela após testar e não gostar da fotografia, um dos hobbies de sua mãe, a Rainha Elizabeth II. Depois, aprimorou a técnica com a ajuda do falecido aquarelista britânico Edward Seago, de John Napper e de artistas proeminentes da época como Derek Hill, John Ward e Bryan Organ.

Foi corajoso ao expôs seu trabalho pela primeira vez no Castelo de Windsor em 1977, ao lado de obras da Rainha Vitória, uma ávida aquarelista, e do Duque de Edimburgo, um pintor e designer que adorava criar vitrais como os das janelas de vidro da Capela Privada do Castelo de Windsor.

Em 1987, Arthur George Carrick, um até então desconhecido pintor de aquarelas de 39 anos, apresentou um de seus trabalhos para a Exposição de Verão da Royal Academy de Londres, uma das mostras de arte mais importantes da Grã-Bretanha. Entre mais de 12 mil desenhos, a aquarela de Carrick, que mostrava casas de fazenda e algumas árvores sob um céu azul claro, foi selecionada. O que os curadores jamais poderiam imaginar é que Arthur George Carrick era um pseudônimo. O verdadeiro pintor da aquarela era Charles, o atual rei da Grã-Bretanha.

Um de seus lugares preferidos para pintar é o Castelo de Balmoral, localizado em Aberdeenshire (Escócia). A propriedade foi utilizada pela Rainha Elizabeth II em muitas férias de verão. Ela adorava o local, assim como seu filho, que produziu a partir de lá muitas aquarelas com cenas ao ar livre, montanhas, riachos e as áreas verdes.

O rei continuou sua trajetória de produção, chamando a atenção de fãs do Reino Unido e do exterior. O Rei tem uma facilidade imensa para produzir aquarelas em tempo recorde. Domina a técnica e se diverte com os registros que faz, tendo pintado inclusive muitos países que ele visitou de férias ou representando a coroa britânica, como Suíça, Hong Kong e Japão. Embora ele modestamente se considere como um “amador entusiasmado”, estima-se que ele já ganhou mais de 6 milhões de libras com as vendas de cópias de suas aquarelas, tornando-se um dos artistas vivos de maior sucesso em seu país. Importante destacar que todo o valor arrecadado foi doado à Prince’s Foundation, uma instituição de caridade educacional estabelecida por ele em 1986.

Na festa de seu aniversário de 70 anos, apresentou uma grande retrospectiva de suas aquarelas no Palácio de Buckingham, e segue expondo suas obras em eventos beneficentes como o que homenageou o Dia Internacional da Enfermagem e das Enfermeiras, logo após as profissionais terem atuado na ajuda de dezenas de vítimas do Incêndio de Grenfell, quando um prédio residencial pegou fogo.

Suas aquarelas já foram usadas em diversas ocasiões. Em 1997, ilustraram a imagem do passe da temporada de esqui da Suíça. Em 1994, o Royal Mail homenageou o rei colocando suas aquarelas em seus selos, incluindo uma bela pintura da montanha Arkle em Sutherland, Escócia. Suas obras foram expostas no Hampton Court Palace (1998) e na National Gallery of Australia (2018).

No começo do ano passado, teve a maior exposição de seu trabalho. 79 aquarelas foram apresentadas na Capela de Garrison, em Chelsea, Londres. Na época, o então príncipe declarou que pintar era absolutamente relaxante e que a aquarela o transportava para outra dimensão. “Esse hobby refresca partes da alma que outras atividades não alcançam”, declarou ao mencionar que a pintura requer atenção intensa e exercita a visão para temas como luz, sombra, tom, textura e forma.

Ele diz que não tem a ilusão de que seus esboços representem uma grande arte ou um talento emergente, mas que, como um álbum de fotos, significam muito para ele. Gosto da sua arte. Considero seu traço bonito, seus desenhos bem-acabados e repletos de detalhes. Não acho que ele é amador e suas obras são diferenciadas, a ponto de o posicionar como um dos artistas vivos mais bem pagos da Grã-Bretanha.

Vale lembrar que o Rei Charles I, do século XVII, foi patrono de importantes pintores como Rubens e Van Dyck, além de ter construído uma das coleções de arte mais importantes da Europa. Seu filho, Charles II, reabriu os teatros da Grã-Bretanha e lançou as bases para o que é hoje o West End. Charles III deve seguir o mesmo caminho. Ele é mais sintonizado culturalmente que sua mãe. Gosta também de música clássica, ópera e balé. Além de produzir aquarelas, vive cercado de obras-primas. A coleção de arte da família real inclui 600 desenhos de Leonardo da Vinci, entre outros tesouros. Ao que tudo indica, o novo reinado deve dedicar uma atenção especial ao mundo da arte. Certamente, todos ficarão muito felizes com isso. Se tiver uma boa história para compartilhar, aguardo sugestões pelo Instagram Keka Consiglio, Facebook ou no Twitter.