É possível que os atletas russos não disputem os Jogos Olímpicos. Já suspensa pela Agência Mundial Antidoping (Wada) de toda competição internacional por quatro anos, a Rússia se vê ameaçada agora pela Federação internacional de atletismo com o risco de seus representantes serem totalmente excluídos dos Jogos de Tóquio-2020.

Suspensa desde novembro de 2015 devido a um vasto escândalo de doping institucional, a Rússia pode se complicar ainda mais com a recomendação da Unidade de Integridade do Atletismo (UIA) de banir o país da World Athletics (Federação internacional de Atletismo, ex-Iaaf).

A UIA também pediu a paralisação do processo de permissão aos atletas russos comprovadamente limpos de competir em competições internacionais, deixando ainda mais incerta a presença desses atletas nas provas de atletismo em Tóquio.

A UIA e a World Athletics (WA) se mostram assim decididas a ir mais longe do que a Wada, que, embora tenha proibido a Rússia de participar por quatro anos de competições internacionais, como Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo de futebol, abriu uma brecha para que os atletas que provassem inocência pudessem competir sob bandeira neutra.

Tal mecanismo já esteve em prática no atletismo, mas havia sido paralisado em novembro do ano passado após a suspensão provisória, em 21 de novembro, de cinco dirigentes da federação russa de atletismo (Rusaf), incluindo o presidente Dmitri Chliakhtine, por “obstrução de uma investigação” no caso do saltador Danil Lysenko. Eles são acusados de ter fornecido documentos falsos para permitir que o vice-campeão mundial de 2017 escapasse das sanções por não ter comparecido a exames antidoping obrigatórios.

– “Continuação” –

A World Athletics também decidiu por suspender o processo de reintegração da Rusaf.

E, novamente, as descobertas em torno do “caso Lysenko” ameaçam a Rússia de ser afastada do mundo do atletismo.

“Estas recomendações foram formuladas pelo conselho da UIA após examinar a resposta da Rusaf em relação às acusações publicadas em 21 de novembro de 2019”, indicou a entidade independente em comunicado.

Para a UIA, a queixa contra a Rusaf “segue intacta”, porque o órgão russo de combate ao doping “teve ampla oportunidade de apresentar todas as provas possíveis que, segunda ela, possam responder aos questionamentos e argumentos da UIA contra ela. Até o momento, de acordo com o conselho da UIA, a Rusaf não fez isso”.

A UIA julga esta “abordagem profundamente preocupante, porque parece indicar que a diretoria nova da federação (Yulia Tarasenko substituiu Chliakhtine em novembro) é apenas a continuação da primeira”.

– Pressão –

Respondendo ao comunicado da UIA, a WA se disse pronta para estender uma última vez a mão à Rússia e ao novo ministro dos Esportes do país, Oleg Matytsine, nomeado na semana passada. Caso as autoridades russas admitirem as infrações, o conselho da WA colocará em prática sanções mais leves que “não chegarão à exclusão”.

“Caso a Rusaf continuar a negar as acusações, caberá ao Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) julgar o litígio. Caso as acusações forem confirmadas, o relatório voltará à mesa do conselho da World Athletics, que colocará em prática sanções” que podem chegar à exclusão da Rússia, explicou a WA.

A recomendação da UIA aumenta a pressão sobre a federação russa, já alvo de inúmeras críticas de muitos de seus principais atletas, como a tricampeã mundial do salto em altura Mariya Lasitskene, o campeão do mundo dos 110 m com barreira Sergey Shubenkov e a campeã do mundo do salto com vara Anzhelika Sidorova.

Após escreverem em dezembro uma carta aberta para exigir explicações da federação, os atletas reformularam sua comissão na federação em busca de uma maior voz, enquanto Lasitskene se encontrou com o novo ministro dos Esportes.

“Eu quero acreditar que essas mudanças vão nos ajudar, que elas terão influência sobre a federação russa de atletismo, porque realmente estamos em um estado lamentável”, criticou a campeã à AFP antes do encontro.

kn-rg/ll/am